“A nave ia derivando num voo curvilíneo e sem rumo aparente, os impulsores bocejando frios e silenciosos no vazio, os sistemas de suporte de vida mantendo os parâmetros necessários à protecção do solitário tripulante que jazia em animação suspensa no interior de um envoltório hermético. A sua pele desnuda achava-se pejada de sensores ligados à interface cibernética, o cérebro artificial gerindo os cada vez mais parcos recursos, numa maquinal obediência aos programas habilmente desenvolvidos séculos atrás. A cada trinta minutos, o músculo cardíaco pulsava para irrigar de sangue oxigenado os tecidos do corpo arrefecido, a necrose sendo adiada por mais um breve intervalo de um tempo que se escoava irremediavelmente por entre o total alheamento da mente destituída de sonhos, a inconsciência mantendo-o afastado da terrível incerteza do que havia por vir. Tinha procurado, em vão, sinais de que a sua espécie pudesse ter encontrado forma de resistir à catástrofe. Restara-lhe a esperança de que pelo menos alguns o tivessem feito, a estrela de classificação espectral G2V a que chamavam Nanahuatl sendo o objectivo provável, a existência confirmada de uma sistema planetário e os pouco mais de oito anos-luz de distância fazendo dela um destino promissor. Antes de cruzar a órbita de Lalande C, marcara na mesa de navegação a trajectória elíptica até ao bordo interno do braço de Orion; nove décadas iriam suceder-se como se apenas um mês viesse a decorrer, o envelhecimento não passando de um conceito falho de invariabilidade …”
V.A.D. em Tarde Demais
De
Cöllyßry a 12 de Maio de 2008 às 18:50
E toda a evolução de nada adianta...a incerteza ronda a mente seja ela qual for...
Um tenho que vir por a leitura em dia...até lá
Doce beijo e doce sorriso___________
De
V.A.D. a 14 de Maio de 2008 às 02:06
O próprio futuro representa a maior das incertezas... Podemos discuti-lo, planeá-lo, podemos até tentar inventá-lo... Mas, na verdade, nunca podemos saber como vai ser... :-)
Desejo-te uma magnífica noite!
Um beijo e um enormeeeeeeeeeeeee sorriso... :-)
De
Emanuela a 13 de Maio de 2008 às 02:00
Imaginar-me sobrevivendo a todos os meus, sinceramente não é algo que me agrade muito, apesar da grande curiosidade de como seria neste caso. Noventa anos depois? Muito estranho!
Beijinhos
De
V.A.D. a 14 de Maio de 2008 às 02:13
Amiga, é longa a distância a percorrer, e fazê-lo em noventa anos significa apenas que a velocidade média da nave não excederia pouco mais de dez porcento da velocidade da luz... :-)
É sempre difícil imaginar a solidão que alguém sentiria, confrontado com uma situação assim, sobretudo quando não haviam certezas quanto ao rumo tomado por aqueles que eventualmente tivessem escapado ao cataclismo...
Desejo-te uma excelente noite, amiga!
Um beijo e um enormeeeeeeeeee sorriso... :-)
De
Fisga a 13 de Maio de 2008 às 15:43
Está provado que cada vez mais o que hoje é verdade amanhã já não o é. A evolução das técnicas é constante e a cada vez mais avançada. Também o que hoje é ficção amanhã será realidade. Um abraço. E até segunda dia 19.
De
V.A.D. a 14 de Maio de 2008 às 02:19
Amigo, subscrevo na íntegra aquilo que refere. A evolução tecnológica torna a ficção em realidade, e vemos no dia-a-dia: coisas que eram impensáveis há poucas décadas tornaram-se já usuais... :-)
Desejo-lhe umas excelentes mini-férias!
Um grande abraço, e votos de uma magnífica viagem.
De
**** a 13 de Maio de 2008 às 19:15
"A nave ia derivando num voo curvilíneo e sem rumo aparente, os impulsores bocejando frios e silenciosos no vazio" - parafraseando a tua resposta ao meu último comentário (que curiosamente é uma expressão que utilizava muito com um amigp), só digo que tenho "saudades desse futuro"...
Não no sentido do desaparecimento duma espécie, mas por esse voo que imagino sob o fundo astral de inimaginável beleza.
Quanto ao estado de “necrose” confesso que me mete um pouco de confusão manter tanto tempo a inacção... estamos de tal forma condicionados ao movimento, estando todo o universo em constante mobilidade, de tal modo que só um abrandamento deste género seria estranho. – “... each time we stop / We fall”
E, no entanto, acho que estava a precisar duma semana dessa tua terapia...
Gostei da expressão final: "o envelhecimento não passando de um conceito falho de invariabilidade "... uma forma fantástica de expor uma hipótese deveras interessante de reflectir.
Beijos
E boa noite longe desse estado letárgico
sophia
De
V.A.D. a 14 de Maio de 2008 às 02:41
É recorrente em mim, essa visão do negrume espacial pontilhado aqui e ali pelas estrelas, a sensação de aceleração intensa seguida de imponderabilidade (algo que já tive oportunidade de experimentar) sendo usada para a construção da ideia que conduz ao relato de um voo assim... Imagino-me muitas vezes não dentro de um avião, mas numa nave, rumo às estrelas... :-)
O abrandamento do metabolismo é algo que existe naturalmente na natureza, algumas espécies tendo sido dotadas dessa extraordinária capacidade de iludir o próprio tempo, numa reacção a condições climatéricas extremas. Experiências têm sido feitas, demonstrando que a animação suspensa pode ser induzida artificialmente em alguns mamíferos. Quem sabe se não estamos a um passo de poder encetar viagens longas, cruzando o vazio nesse estado ambíguo, "o envelhecimento não passando de um conceito falho de invariabilidade"... :-)
Agradecendo as tuas gentis palavras, também eu te desejo uma magnífica e repousante noite, amiga!
Um beijo e um enormeeeeeeeeee sorriso... :-)
De Café com Natas a 17 de Maio de 2008 às 16:26
Olá V.A.D.
eu queria comentar-te mas hoje tenho a minha mente povoada apenas por... cerejas e vontade de as cheirar, de lhes mexer... e de as trincar... Aiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!
Acho que vou ali comprar cerejas, que não sendo de Resende... são cerejas.
voltarei...
Beijinhos e bom f-d-s
De
V.A.D. a 17 de Maio de 2008 às 23:14
Olá, amiga!
Hummm... Embora os meus raciocínios estejam normalmente focados em outros temas, devo dizer-te que adoro cerejas! Guarda umas para mim, por favor... :-)
Retribuo os teus votos de excelente fim-de-semana!
Um beijo e um enormeeeeeeeeee sorriso... :-)
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