Terça-feira, 22 de Abril de 2008

Sol Vermelho (X)

Epílogo

 

“Dormíamos pouco. A evolução não lhe havia cerceado o desejo; apenas pela madrugada permitíamo-nos ceder ao sono melifluamente exausto das noites repletas de descobertas e transbordantes de suores. Os dias eram preenchidos. Ocupava-me entre a universidade onde leccionava história arcaica e o instituto de tecnologia, os meus conhecimentos ajudando na empresa de construir um dispositivo que rompesse controladamente a cadeia temporal, o passado afigurando-se-lhes a única forma segura de escapar à morte pelo fogo estelar, o escudo de protecção na origem das minhas peripécias sendo agora uma ideia posta de parte.

Alguns anos depois, a máquina foi aprontada e voluntariámo-nos para a viagem experimental, a época que me havia visto nascer sendo o destino escolhido, a possibilidade de voltar a estar sob a amarela luz do Sol de meia-idade preenchendo os meus sonhos, ela sentindo uma imensa curiosidade acerca do meu mundo e da minha espécie. Desde então, temos passado muito do nosso tempo na velha Terra. Se, numa ocasião qualquer, sentirem que estão a ser vítimas de abdução, não temam. Os médicos pretendem apenas conhecer aprofundadamente o metabolismo dos seres humanos. Se alguma vez virem um veículo aéreo com a forma de disco, é verosímil que seja eu a pilotá-lo. Às vezes, por brincadeira, desenhamos símbolos nas searas, os jactos frios do sistema de propulsão dobrando o trigo ou o milho em padrões lindíssimos. Usando este mesmo método, talvez venha a mostrar-vos um retrato meu.”

V.A.D. em Sol Vermelho

Imagem: Retrato (original em www.greatdreams.com/crop/Chilboltonface.gif)


publicado por V.A.D. às 13:00
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16 comentários:
De Maria João Brito de Sousa a 22 de Abril de 2008 às 16:33
Ou o tempo de uma poeta-blogger passa de forma diferente do tempo a que estava habituada na minha forma de vida anterior... ou tu és muito produtivo. Não imaginava que o Sol Vermelho estivesse já no seu epílogo!
E gosto!Gosto mesmo muito das tuas viagens!
Um grande abraço e... até à próxima!


De V.A.D. a 23 de Abril de 2008 às 02:40
Confesso-te que as histórias que vou construindo me dão um imenso prazer. Acredita que, embora o tempo me escasseie, vou arranjando maneira de escrever com alguma regularidade, porque não gosto de deixar coisas a meio... :-)

Fico muito contente por saber que o conto agradou; tenha a noção de que este género de escrita não é o mais bem-amado e que quase sempre implica alguma pesquisa, para que certos aspectos da narrativa possam ser entendidos, uma vez que tento basear-me em dados científicos comprovados para criar cenários plausíveis. Mas, é claro que ficção é ficção... :-)

Agradecendo a gentileza das tuas palavras, desejo-te uma magnífica noite, amiga!

Um beijo e um enormeeeeeeeee sorriso... :-)


De Fisga a 22 de Abril de 2008 às 17:20
Uma aventura desta dimensão, só poderia terminar bem. Não sou muito dado a aventuras mas uma viagem assim se tivesse a possibilidade de a fazer não era para pensar duas vezes. Um abraço e uma boa noite.


De V.A.D. a 23 de Abril de 2008 às 02:42
Deveria ser fantástico, poder-se avançar assim no tempo... Quantas maravilhas o futuro nos reservaria, quanta estranheza estaria presente em todos os aspectos de um mundo diferente, o tempo alterando tanta coisa...!

Obrigado pelas suas palavras, amigo! Desejo-lhe uma magnífica noite!

Um abraço.


De Fisga a 23 de Abril de 2008 às 10:11
Quem diz avançar pode dizer recuar, eu não sei se qualquer das duas situações não seriam um autêntico e maravilhoso mundo novo, embora cada um apontando em direcções diferentes e para coisas diferentes, eu penso que sim. Um abraço e um dia de sol.


De V.A.D. a 23 de Abril de 2008 às 13:50
Sem dúvida, amigo! As viagens no tempo representam um enorme fascínio para mim. Representariam a possibilidade de se verificar a história de um passado rico ou de um futuro ainda por escrever...

Votos de um excelente dia!

Um abraço.


De TiBéu ( Isa) a 23 de Abril de 2008 às 00:35
untit,,led.bmp
Vim dar as boas noites e desejar uma noite descansada. bj


De V.A.D. a 23 de Abril de 2008 às 02:44
Obrigado, amiga. Também eu te desejo uma noite assim, serenamente magnífica... :-)

Um beijo... :-)


De Emanuela a 23 de Abril de 2008 às 02:41
Ai que não te cansas nunca de trabalhar? Foste para o futuro e já arranjaste um emprego por lá? Não podias te aposentar? Afinal, não fosse o corpo que te arranjaram por lá estarias já bem velhinho...
Agora deixando um pouco de brincadeiras, de todos os teus contos, este foi o final que mais gostei.
“Se alguma vez virem um veículo aéreo com a forma de disco, é verossímil que seja eu a pilotá-lo. Às vezes, por brincadeira, desenhamos símbolos nas searas, os jactos frios do sistema de propulsão dobrando o trigo ou o milho em padrões lindíssimos. Usando este mesmo método, talvez venha a mostrar-vos um retrato meu.” Com esta frase, deste respostas ( a possibilidade delas) à tantas perguntas... Adorei!
E quem sabe se aquele óvni que avistei há algumas décadas atrás já não era pilotada por ti? ...
Beijinhos


De V.A.D. a 23 de Abril de 2008 às 02:58
Eheheh... :-) Amiga, eu sou ainda um jovem na flor da idade, e pela minha frente tenho evos de trabalho... E olha que não me importaria nadinha de pilotar engenhos assim, nem de poder viajar no tempo a meu bel-prazer...
De facto, há tantas perguntas para as quais (ainda) não temos respostas... Há fenómenos que me fascinam, objectos sendo avistados sem que para eles exista uma explicação plausível, desenhos que surgem nas searas sem que para todos se encontre uma maneira de os desmascarar como brincadeira de humanos... A própria imagem que apresento no post é uma fotografia aérea de uma dessas gravuras.
Achei interessante, explorar esta vertente de mistério, através da criação de um paralelismo que, não passando de ficção, pode não ser totalmente absurdo... :-)

Agradecendo as tias amáveis palavras, desejo-te uma magnífica noite, amiga!

Um beijo e um enormeeeeeeeeee sorriso... :-)


De Pérola a 23 de Abril de 2008 às 14:24
Às vezes pergunto-me se realmente existirão extra-terrestres, e concluo que creio que sim, que assim como houve evolução na Terra, terá havido certamente noutros planetas.
Espero é que sejam bem mais evoluídos que nós e que um dia possamos aprender algo de últil com eles, porque nós estamos ainda num nível extremamente básico, na minha opinião.

Um grande beijo e mais uma vez adorei o post.


De V.A.D. a 24 de Abril de 2008 às 00:37
Embora não seja excessivamente crédulo em relação a certas matérias, tento manter uma mente aberta. Como tal, também eu sou levado a crer que, num Universo tão vasto, existirão certamente outros tipos de vida, outras espécies inteligentes.

Mas, amiga, neste conto não se mencionam extraterrestres; os seres com os quais o protagonista se vê confrontado são os próprios descendentes da humanidade...

Inclusivamente, não ponho de lado a hipótese de que certos fenómenos de difícil explicação sejam manifestações de viajantes do tempo, vindos de um futuro distante. É, aliás, baseado nesta possibilidade que o enredo se constrói... :-)

Obrigado, amiga. As tuas palavras, sempre gentis, deixam-me cheio de satisfação.
Desejo-te uma noite muito, muito agradável!

Um beijo e um enormeeeeeeeeeeee sorriso... :-)


De Planeta Gifs e Jogos a 23 de Abril de 2008 às 17:34
Olá,
Eu gostei do seu site e gostaria de fazer parceria com vc, posso colocar seu link em meu site e gostaria que vc tbm colocasse o meu link no seu site.


Esse é o meu código do button:



Image
(http://www.planetagifsejogos.hpg.com.br)


Abraços!


De V.A.D. a 24 de Abril de 2008 às 00:38
Não vou repetir o que já havia dito numa resposta anterior... :-)

Um abraço!


De **** a 23 de Abril de 2008 às 22:29
"A evolução não lhe havia cerceado o desejo; apenas pela madrugada permitíamo-nos ceder ao sono melifluamente exausto das noites repletas de descobertas e transbordantes de suores." - Há coisas que realmente não mudam, por mais que evoluamos e por mais que a esperança de vida se prolongue....

"Ocupava-me entre a universidade onde leccionava história arcaica... " - realmente não há melhor pessoa que alguém que viveu as coisas para nos ensinar História. Um emprego maravilhosamente encontrado que se enquadra na perfeição.
Conseguiste que ele não quebrasse nunca os elos que o ligavam ao passado, que fosse valorizado um conhecimento desactualizado, mas tão precioso como qualquer outro.

"Usando este mesmo método, talvez venha a mostrar-vos um retrato meu." - genialmente explicadas essas figuras tão divulgadas...
Peço só uma coisa ao personagem: numa próxima viagem mostra também o rosto dela...

O conto ficou fantástico...
Agradeço-te muito sinceramente pela Saf’tiah

Beijos
e uma óptima noite, esta já com a lua

Sophia


De V.A.D. a 24 de Abril de 2008 às 01:55
Subscrevo, amiga. O sexo, que começou por ser necessário apenas para a reprodução, passou a ter uma importância fulcral na vida dos primatas superiores. Nos humanos, está-lhe associado aquilo a que se pode chamar desejo, algo que indiscutivelmente manifesta um poder imenso, influenciando comportamentos, determinando, muitas vezes, grandes mudanças. Se lhe estiver associado um sentimento nobre, permite atingir uma plenitude inigualável... :-)

Creio que faz todo o sentido, o protagonista ter arranjado uma ou mais ocupações. Afinal, a integração de que ele precisava fez-se também com a ajuda de algo que o realizava profissionalmente. Posso afirmar que isto não é ficção, eheheheh... :-)
Considero que só somos "completos" se fizermos algo de que gostamos... :-)

Apesar de, inicialmente, o esboço do conto ir num sentido completamente diferente, constatei que o seu desenvolvimento se prestaria à criação de um paralelismo entre alguns fenómenos de difícil explicação e a experiência que estava a ser vivida pelos intervenientes na história.
Fico muito, muito contente por saber que o desfecho pode ser considerado interessante.
Agradeço as tuas palavras, sempre gentis e incentivadoras, minha amiga, e prometo que um outro retrato virá a ser mostrado, numa próxima viagem... :-)

Também eu te desejo uma magnífica noite!

Um beijo e um enormeeeeeeeee sorriso... :-)


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