Sexta-feira, 18 de Abril de 2008

Sol Vermelho (VI)

“Sou Fab’hio, o engenheiro. O quebra-cabeças tem vindo, aos poucos, a ser resolvido. O veículo alienígena fora mantido em órbita, um pequeno gerador de antigravidade colocado no seu interior servindo para estabilizar a trajectória elíptica até ser completada a análise microorgânica. As amostras recolhidas parecem ter gerado uma inusitada euforia entre os microbiólogos, a vasta flora compondo-de de bactérias e fungos trazendo novos dados que parecem confirmar a hipótese que tem vindo a ser aventada acerca da natureza e proveniência da nave e do seu ocupante. Apesar da transferência horizontal de ADN, a taxa de evolução microbiana é fundamentalmente inferior à dos organismos superiores, as notáveis similitudes entre os genomas de organismos autóctones e alienígenas sendo certamente explicadas por uma origem comum.

Finalmente, rebocadores especialmente concebidos haviam trazido o aparelho para a superfície planetária, dias e noites transcorridos sem que se desse conta da sua passagem, o fascínio associando-se à aura de antiguidade que parecia rodear a estranha máquina, a vontade de desvendar os segredos de uma tecnologia desapropriada levando a concluir da incongruência de uma viagem pelas lonjuras espaciais. Fora agendada uma teleconferência, as maiores sumidades destes tempos do fim dissecando as informações disponíveis, a grande comunidade científica focando todo o seu saber na empresa de solucionar o enigma. Do extenso relatório, avulta-se a singular conclusão de que uma disrupção temporal, provocada pelo ensaio do escudo protector, pode ter arrebatado a um tempo pretérito aquele ser indefeso, antepassado de nós…”

V.A.D. em Sol Vermelho

Imagem: Nave (www.javierayuso.com/starwars/ships/NabooRoyalStarship.jpg)


publicado por V.A.D. às 14:30
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8 comentários:
De Cöllyßry a 18 de Abril de 2008 às 18:12
Quantas bactérias virão, não das naves mas dos detritos
que um dia virão de tudo que depositam lá em cima há
descoberta do espaço…

Belo comandente

Doce meu beijo, e enorme sorriso________


De V.A.D. a 20 de Abril de 2008 às 03:14
Pois é, amiga. Enchemos de lixo tudo o que é recanto, nem o espaço escapando à falta de cuidado de uma humanidade que virá a pagar pelos excessos que vai cometendo...
Resta-nos a esperança de que certas mentalidades mudem e que essa mudança ainda seja feita atempadamente.

Desejo-te uma óptima noite e um excelente domingo!

Um beijo e um enormeeeeeeeee sorriso... :-)


De Emanuela a 19 de Abril de 2008 às 02:40
Muito interessante isto. Ser analizado como um dinossauro vivo. Afinal, pelo tempo que parece ter decorrido entre um mundo e outro o pobre viajante não é para eles nada diferente do que o olhar da ciência sobre fósseis...
Amigo, a história tem se revelado interessante. No entanto, teu conhecimento acerca das coisas deixa-me um pouco à margem e quase sempre preciso pesquisar um pouco para poder entender-te. Neste conto não tenho feito isto, porque ando a fazer outras pesquisas. Então, se nos meus comentários eu disser alguma asneira, fica à vontade para corrigir-me. Um beijinho, bom fim de semana


De V.A.D. a 20 de Abril de 2008 às 03:22
O protagonista sentir-se-ia certamente uma mera cobaia nas mãos dos investigadores... Imaginei uma situação em que, apesar de toda a proximidade genética existente, ele seria encarado, talvez não como um dinossauro, mas como um australopiteco vivo, um ser que foi arrancado inadvertidamente a um passado que lhe pertencia por direito próprio...
Amiga, embora possas não ter o tempo requerido para todas as pesquisas que podem ser feitas acerca dos pormenores que abordo, tenho a certeza de que entenderás o enredo... :-)

Agradecendo as tuas amáveis palavras, desejo-te uma óptima noite e um excelente domingo!

Um beijo e um enormeeeeeeeeee sorriso... :-)


De Maria João Brito de Sousa a 19 de Abril de 2008 às 14:10
Será? Será que o pobre náufrago espacial é, realmente, olhado como um fóssil? Ou será que se irá fazer sentir essa estranha solidariedade que emana de e para com todos os seres vivos? A ver vamos...
Abraço e um excelente fim de semana.


De V.A.D. a 20 de Abril de 2008 às 03:27
Hummm... :-) Embora a situação seja confrangedora para o protagonista, arrancado ao seu mundo e colocado perante um cenário inesperado, creio que a será capaz de se adaptar. Irá também prevalecer a solidariedade que muito acertadamente referes... :-)

Desejo-te uma óptima noite e um excelente domingo, amiga!

Um beijo e um enormeeeeeeeeeee sorriso... :-)


De **** a 20 de Abril de 2008 às 02:05
"As amostras recolhidas parecem ter gerado uma inusitada euforia entre os microbiólogos..." - Há algo de profundamente humano nestes teus personagens que julgo, caso tenha compreendido, serem uma evolução do homo sapiens sapiens...
Essa capacidade de nos interrogarmos e desafiarmos, de nos entusiasmarmos e de envolvermos, de nos fascinarmos e apaixonarmos é algo demasiadamente nosso para sequer pensar que alguma vez o perderemos... há "laços" que não se quebram.

"... pode ter arrebatado a um tempo pretérito aquele ser indefeso, antepassado de nós…” - Há algo de muito atractivo nessa ideia, tantas vezes que o passado se revela tão obscuro como o dia de amanhã. Pessoalmente gostava muito de ter uma conversinha ou duas como certas damas e cavalheiros de anos passados... mesmo ainda dentro da mesma espécie seria deveras interessante.

Muitoooossss Beijos,
Muitoooo boa noite
e que as tuas palavras - como sempre fascinantes - me continuem a alimentar "a vontade de desvendar os segredos " que nelas tão habilmente escondes...

Sophia


De V.A.D. a 20 de Abril de 2008 às 04:04
Amiga, compreendeste muitíssimo bem o argumento que serve de base ao conto: o protagonista foi inadvertidamente arrancado a um passado remoto para se ver confrontado com um mundo que envelheceu, com uma raça da qual é um antepassado distante. A passagem do tempo significa evolução mas, de facto, tento transmitir a ideia de que há coisas que nunca se irão perder... "Há laços que jamais serão quebrados!" :-)

O passado dilui-se na noite dos tempos, torna-se informe e quase irreal, os contornos esmaecendo-se como numa aguarela, as memórias tornando-se difusas ou deliberadamente deturpadas... Entendo perfeitamente aquilo que deixas transparecer quando afirmas que gostarias de poder conversar com certas personagens. Sabendo do meu gosto por história, compreenderás que partilho dessa tua vontade... :-)

Gostaria de poder viajar no tempo... Ao encetar este exercício que é escrever algo relacionado com este assunto, tento prestar homenagem aos autores que me têm proporcionado momentos inolvidáveis, através da sua arte... :-)

Agradeço, amiga, as tuas palavras sempre gentis e que representam muito para mim.
Desejo-te uma óptima noite e um excelente domingo!

Beijosssssssss e um enormeeeeeee sorriso... :-)


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