
“Já não tinha preocupações. A esmagadora sensação de que o fim fora iminente havia sido extinguida, as dores excruciantes não passando presentemente de uma mera ilusão de formigueiro que se tendia a desvanecer, a terrível ideia de término definitivo dando lugar à utopia da eternidade. As necessidades básicas eram agora providas pela complexidão da maquinaria biológica arquitectada pelas hábeis capacidades dos meus captores, o corpo totalmente artificial abrigando o meu imo, a sede do meu raciocínio tendo uma nova morada, tão diversa mas tão incrivelmente cómoda. Olhei-me no polimento do metal, a acção repetida vezes sem conta nestes últimos dias trazendo-me de novo aquela aflitiva noção de não me reconhecer, o invólucro postiço confundindo os sentidos e ferindo a mente num choque que se renovava teimosamente mas que, contudo, se parecia atenuar à medida que o tempo passava. Forçara-me a aceitar esta nova condição sem compunções nem revoltas, uma espécie de gratidão nascendo da certeza de estar morto, naquele momento, não fora a intervenção atempada daqueles seres, tão terminantemente alienígenas quanto capazes de revelar uma benignidade que rareava entre os humanos. Virei-me para a translucidez da estranha parede que me separava de um mundo que me era totalmente desconforme, admirando a vermelhidão de um sol grotescamente grande que acabara de ser erguer para lá de montanhas e edifícios negros de sombra. Fiquei ali, de pé, deixando que a memória me conduzisse, numa reconstituição precisa dos últimos instantes da minha anterior existência...”
V.A.D. em Sol Vermelho
Imagem: Sol Vermelho (original em http://static.desktopnexus.com/wallpapers/9677-bigthumbnail.jpg)
De
Lazy Cat a 10 de Abril de 2008 às 18:16
...a memory in 6 words...
De
V.A.D. a 12 de Abril de 2008 às 22:02
Texto já preparado para publicação em data apropriada... :-)
Bom fim-de-semana!
Um beijo... :-)
Eis-te finalmente separado do invólucro carnal. Fico à espera de saber como te sentes assim, aí, sob um Sol Vermelho.
De
V.A.D. a 12 de Abril de 2008 às 22:07
Olá, amiga :-) Desculpa-me por só agora estar a responder, mas às vezes o tempo esvai-se sem que disso dêmos conta, impedindo-nos de fazer tudo aquilo que nos propomos.
Já num ou noutro exercício de escrita me havia separado do invólucro, mas nunca como aqui. Espero ser capaz de ilustrar a estranheza que certamente se sentiria, em circunstâncias assim... :-)
Votos de um óptimo final de sábado e de um magnífico domingo!
Um beijo e um enormeeeeeeee sorriso... :-)
E eu acho fascinante o que te propões fazer! Também estou sem tempo, ainda não pus em dia o teu Sol Vermelho... vou fazê-lo agora!
Abraço e uma excelente noite de trabalho!
De
V.A.D. a 12 de Abril de 2008 às 22:45
Mesmo correndo o risco de escrever algo que pode vir a parecer desinteressante ou absurdo, cada ideia que floresce dá normalmente lugar a um conto. Há já uns dias que isto se andava a insinuar na minha mente: uma história de ficção científica em que alguém se vê desapossado do próprio corpo, confrontando-se com mais perguntas do que respostas...
Agracendo as tuas gentis e encorajadoras palavras, retribuo os teus votos de noite excelente, amiga!
Um beijo e um enormeeeeeeeee sorriso... :-)
De Café com Natas a 12 de Abril de 2008 às 00:34
Nice... agora é uma sucessiva alusão ao Sol...
Coooollll
Great!!!!

E um abraço cheio de sol
De
V.A.D. a 12 de Abril de 2008 às 22:15
De há uns dias a esta parte que a ideia para este conto se andava a insinuar na minha mente; espero poder construir algo que possa ser considerado interessante. O sol, sendo uma gigante vermelha, indicia-nos que ou o tempo ou o espaço são diversos daqueles em que existimos... :-)
Desejo-te um magnífico fim-de-semana!
Um beijo e um enormeeeeeeeee sorriso... :-)
De Café com Natas a 12 de Abril de 2008 às 22:21
Yes Sir!!

P.S. Pansê qûe fôsses de Pount Delgáde.. 
De
V.A.D. a 12 de Abril de 2008 às 22:34
Embora os ache giríssimos, não costumo usar emoticons nos comentários; prefiro uma simbologia menos pictórica mas não menos intensa... :-)*
Beijooooo e sorrisooooooooooo...!
P.S. Ahahahah, goste de "ûouvir" a tûa imitaçã do s'taque carregado dos Açoûres!
De
emanuela a 15 de Abril de 2008 às 20:11
Mente preservada em um corpo diverso...é algo fantástico e assustador. Hoje estou a tentar colocar a leitura em dia.
Abraços!
De
V.A.D. a 17 de Abril de 2008 às 00:59
Peço-te que me desculpes por só agora responder ao teu comentário, amiga. O tempo tem sido curto e difícil de gerir, mas tentarei pôr as minhas respostas em dia... :-)
A ideia da preservação da mente para além da morte do corpo é algo que sempre tem estado presente no imaginário colectivo. Creio que todas as religiões têm por base este dogma, reconfortante para quem é crente.
Sendo ateu, procurei um outro caminho para abordar esta hipótese. Espero que possas achar o conto interessante.
Desejo-te uma magnífica noite, amiga!
Um beijo e um enormeeeeeeeee sorriso... :-)
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