“Não quero ter pressa. Quero ser capaz de passar pelo tempo como se ele fosse minha propriedade, o andar decidido e a cabeça erguida assinalando aquilo que sou. Quero parar pelo caminho num reacender de memórias, a renovação de quem sou sendo feita pela condensação num momento inacabável daquilo que é intemporal. Quero olhar o futuro em todas as direcções, escolhendo, mesmo que o erro seja manifesto, um passo atrás não representando mais do que a consciência de que o desacerto é parte do inacabável processo de aperfeiçoamento. Quero saber da alegria de reencontrar velhos amigos, perdendo-me em conversas sem prazo delimitado, comprazendo-me com as vivências, assimilando as experiências, aprendendo que pouco sei. Quero admirar a subtileza de pequenos gestos, a gratidão interpretando a reciprocidade e não simulando o pagamento daquilo a que se não deve atribuir um preço. Quero partilhar-me, as minhas faces desiguais sendo mostradas sem dissimulações ambíguas e artificiais. Quero aperceber-me das peculiaridades de mim mesmo para almejar o entendimento dos outros. Preciso, para tudo isso, de me alienar do constante tiquetaque que me enche, ouvidos e mente, de uma ânsia abstrusa de chegar a lado nenhum…!“
V.A.D.
Imagem: Espelho (http://img.photobucket.com/albums/v160/darkloud/MirrorHand2.jpg)
Tão linda essa tua caminhada por dentro de ti mesmo! Pode até ser alguém que tu ficcionaste... será linda de qualquer modo! Outra das minhas leituras preferidas de infância e juventude foi Agatha Christie . Dizia essa mulher excepcional que não valeria a pena viajarmos muito, ver muitas paisagens novas, se não soubéssemos "ver" todas as maravilhas que contém uma pequena poça de água estagnada. É uma memória longínqua, esta citação, mas penso não a ter deturpado muito. Fizeram um enorme eco dentro de mim, estas palavras... eu sempre fui uma criança daquelas que são capazes de ficar uma hora a contemplar um pequeno lago, uma teia de aranha, um formigueiro... e sempre adorei transportar para o papel as minhas descobertas e reflexões. Por vezes, os meus deslumbramentos. Uma excelente noite para ti, meu amigo!
De
V.A.D. a 11 de Abril de 2008 às 01:19
Obrigado, amiga. A caminhada aqui transcrita é aquela que muitas vezes faço internamente, na tentativa de perceber quem de facto sou e aquilo que quero ser, por vezes a divergência sendo notória, outras tantas verificando que afinal, a confluência é possível...
Penso que nas pequenas e subtis coisas reside a verdadeira maravilha que é a existência... :-)
Desejo-te uma magnífica noite, amiga!
Um beijo e um enormeeeeeeeee sorriso... :-)
E foi exactamente aí, nas coisas pequeninas e subtis, que me lembrei da A. Christie. Tens razão, a existência é uma verdadeira maravilha!
Uma magnífica noite para ti também!
De
V.A.D. a 11 de Abril de 2008 às 02:12
De facto, amiga, o exemplo do pequeno universo contido numa simples poça de água é algo que nos deve maravilhar, quer pela aparente simplicidade, quer pela efectiva complexidade, um microcosmos onde a vida encontra a possibilidade de se multiplicar...
Esquecemo-nos, tantas vezes, de que a grandiosidade é uma soma de pequenas subtilezas... :-)
Mais um beijo... E muitos sorrisos... :-)
De
Emanuela a 10 de Abril de 2008 às 00:21
Amigo, e se queres tudo isto, tenho a certeza de que farás valer as tuas palavras, pois pareces sempre alguém muito decidido.E esta visão que passas , de saber tão bem o que queres é algo que contagia e extasia. Que bom! Bom que já tenhas uma visão tão amadurecida da vida , mesmo ainda sem seres velho. Bom que a tua pouca idade já tenha te proporcionado tanta sabedoria. E bom, melhor ainda, que te partilhes assim conosco, ajudando-nos também a aprender. Obrigada!
Ah, e antes que me esqueça, não vim só apreciar-te hoje.Vim mais uma vez fazer-te um desafio. É claro que não te poderia deixar de fora! Tomara que o aceites...
Um beijinho muito ternurento, meu amigo!
De
V.A.D. a 11 de Abril de 2008 às 01:32
Minha amiga, agradeço-te e refiro que fico contentíssimo por ler a amabilidade que infundes nas tuas palavras. Embora tentando apreciar cada momento como único, não deixo de tentar perspectivar o futuro, pensando no que foi o passado. Nunca desisti de procurar um entendimento mais profundo, seja nas pequenas coisas que tornam a natureza e a vida tão cheias de pequenos mas magníficos pormenores, seja na majestosidade de um universo cheio de enigmas, seja ainda na tentativa de perceber como as coisas acontecem...
Creio que essa busca passa, obrigatoriamente, por tentar entender-me a mim mesmo, enquanto ser humano, com as minhas complexidades e sujeito às pressões de uma vida exigente... :-)
Amiga, aceito com gratidão o desafio que gentilmente me propões. Dar-lhe-ei seguimento assim que o tempo disponível mo permita... :-)
Desejo-te uma magnífica noite!
Um beijo e um enormeeeeeeeee sorriso... :-)
De
**** a 10 de Abril de 2008 às 03:01
“Não quero ter pressa. Quero ser capaz de passar pelo tempo como se ele fosse minha propriedade...” – Também quero não ter pressa, mas tenho muita. Não tenho o tempo como pertence, mas tenho direito a, como todos, à ilusão da imortalidade.
Está um texto decidido, cheio de desejos, quereres e exigências... A repetição dá um efeito fantástico, parece que as palavras do texto saltam, atropelando-se na leitura. Quase que imagino um orador a lê-lo, numa crescente excitação e sentimento num texto que começa por apelar à calma.
“Quero saber da alegria de reencontrar velhos amigos, perdendo-me em conversas sem prazo delimitado, comprazendo-me com as vivências, assimilando as experiências, aprendendo que pouco sei.” – Perdemos tanto quando, no dia a dia, abdicamos disso... Quando as conversas acabam e paramos um pouco é que tomamos consciência.
“Preciso, para tudo isso, de me alienar do constante tiquetaque...” – É pena, mas “tempus fugit” e mesmo que me tenha, num lapso desculpável mas nada comum, esquecido de dar corda ao relógio e a sua companhia compassada não se faça sentir a meu lado, não pára por o ignorarmos.
Estou sempre a correr, mesmo que só em pensamentos, numa ânsia mais que abstrusa... porque corro? Não sei... Para onde quero ir? “... a lado nenhum” e a todo lado ao mesmo tempo.
muito Beijos
E uma noite calma
Hoje já não vou dar corda ao relógio...
Sophia
PS - "Quero partilhar-me..." - pelo menos acho que com o texto um dos quereres já está semi-preenchido... e optimamente preenchido!
De
V.A.D. a 11 de Abril de 2008 às 02:02
"Tanto a fazer e tão pouco tempo...!" É assim que vejo a vida, curta mas potencialmente rica, a imensidão do que há a saber e a fazer esmagando-me às vezes, outras deixando-me ainda mais sedento de tudo... Conheço o tempo, sei que ele tem tanto de imparável quanto de indomável, sei que devemos aproveitá-lo da melhor forma que soubermos ou conseguirmos, mas sei que em certos momentos é fantástico sermos capazes de desistir de ter pressa, ainda que temporariamente... :-) Para certas coisas, devemos tomar o tempo necessário, mesmo que pareça excessivo; saberemos recuperá-lo, se não foi efectivamente perdido... :-)
Subscrevo inteiramente aquilo que tão bem sintetizaste na frase "mas tenho direito, como todos, à ilusão da imortalidade." Ao nos infundir a ideia de que o tempo não se vai esgotar de imediato, dá-nos a possibilidade de apreciar as coisas sem que tenhamos de passar por elas sem sequer as notar... :-)
Perdemos muito, quando a correria do dia-a-dia nos subtrai a hipótese de apreciar o que os outros têm para dizer. É por isso que organizo um almoço quinzenal com os amigos que me são realmente próximos. Posso dizer-te que, mesmo dando algum trabalho, o simples facto de poder passar umas horas com eles é algo que não tem preço!
Claro que o tiquetaque é uma metáfora... :-) (Sei muito bem que assim o entendeste...! eheheheh)
è preciso prescindirmos, uma vez por outra, do relógio que nos controla. Haveremos de chegar a algum lugar, mesmo que não seja àquele que almejamos. Haveremos de sentir sempre essa ânsia de que falas... Mas podemos aprender a controlá-la, para que ela não nos (des)controle... :-)
Obrigado, amiga, pelas tuas palavras, sempre gentis e cheias de entendimento.
Desejo-te uma magnífica noite!
Um beijo e um enormeeeeeeeee sorriso... :-)
De
perola a 10 de Abril de 2008 às 22:00
Revi-me nas tuas palavras.
É isso que quero, manter sempre a dignidade se quem sou, sendo ao mesmo tempo capaz de dar e partilhar isso com os outros, fazendo-me a mim e aos outros mais felizes.
Um grande beijinho, meu amigo.
De
V.A.D. a 11 de Abril de 2008 às 02:06
Amiga, resumiste de forma magistral aquilo que está subjacente ao texto. Tem de haver um equilíbrio entre a pressa dos dias e o vagar dos momentos em que os amigos, os pormenores subtis da natureza ou a grandiosidade das coisas maravilhosas têm de ser apreciados... :-)
Agradecendo a gentileza das tuas palavras, desejo-te uma magnífica noite, minha amiga!
Um beijo e um enormeeeeeeeeeee sorriso... :-)
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