“A agitação da noite trazia-me uma estranha sensação de esgotamento, a comemoração decorrendo faustosa, músicos e dançarinas entretendo a alta sociedade rhodiana que comparecera em peso, o banquete de peixes variados, saladas, queijos de cabra e carnes de cordeiro sendo regado a esmo com os encorpados vinhos brancos nascidos dos vinhedos que cobriam, vastos, as encostas de Attaviros, os finos licores de todas as proveniências inundando de risos soltos e conversas fúteis a atmosfera cálida. Freyja revelava-se em todo o seu esplendor como anfitriã, cavaqueando com os convivas, orientando os servos, providenciando uma festa como poucas haviam sido vistas ao longo da rica história daquela virtuosa e antiga cidade. E, contudo, pela minha mente corria célere o desejo de me furtar à companhia dos que me homenageavam com a sua presença, ansiava escamotear as questões teimosamente assestadas, as minhas pesquisas e trabalhos sendo o mote preferido de todos os que se me dirigiam. Queria, acima de tudo, poder analisar o assombroso objecto que apenas pudera entrever sucintamente, um disco de bronze graduado no bordo, um anel de suspensão para a verticalidade e uma mediclina formando o admirável mecanismo contido na caixa onde, artisticamente, uma goiva reproduzira fabulosos seres marinhos. O valioso presente oferecido pela mulher a quem me encontrava ligado por laços inusitadamente tenazes serviria, segundo me havia dito, para a medição a altura dos astros acima do horizonte, podendo ajudar na navegação marítima ou resolver problemas geométricos. Quantos conhecimentos se esconderiam dentro daquele abscôndito mundo de mistério que parecia ser a vida dela…?
Veio, sentou-se encostada a mim, fez-me esquecer os tormentos e dúvidas que me vinham assolando, o festim findo com a saída do último convidado dando lugar à celebração de uma união espiritual mediante uma entrega física que atravessou a madrugada para cessar apenas aos primeiros raios do novo dia. Dormimos, extenuados, a manhã passando por nós sem que disso déssemos conta, a canícula despertando-nos já tarde adentro. Uma ideia, provavelmente resultante de algum sonho evanescente, instilara-se, fixa na minha cabeça. Hoje, Freyja teria de se me mostrar por inteiro, ou deixá-la-ia... Se fosse capaz…”
V.A.D.
V.A.D. e Sophia em Antiquitera
Imagem: Astrolábio (http://plato.if.usp.br/1-2003/fmt0405d/medievo/islam/astrolabio2.jpg)
“Tenho um astrolábio
Que me deram beduínos
P’ra medir no firmamento
Os teus olhos astralinos…”
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