
“A noite estendia-se pela gélida inospitalidade de um planeta pleno de mistérios e sustentáculo de sonhos, a temperatura descendo vertiginosamente revelando a aspereza de uma clima desmedidamente agreste, o fato E.M.U. sendo a ilha protectora, uma barreira de fibras sintéticas isolando-me de uma morte rápida. A respiração ia-se condensando na translúcida viseira de plexiglass, enquanto as memórias desfilavam pelos estreitos corredores do pensamento, a voz do velho mestre ecoando forte nos vales da anamnesia.
- Como deves calcular, tenho seguido discretamente a tua carreira e sei que ambicionas algo de extraordinário, mas vês-te confinado a um laboratório e, embora reconheça que o teu trabalho seja interessante, não se pode comparar àquilo que se perspectiva. Vi-me envolvido, através de um convite, num projecto de uma agência espacial que pretende levar a Marte uma equipa, a fim de deslindar um enigma que se tem vindo a adensar desde 1976.
Naquele instante, compreendi a natureza da missão, o objectivo apresentando-se muito mais amplo que a perigosa viagem até ao planeta vermelho. Tratava-se de Cidónia e da face marciana. Estava em causa a busca de provas irrefutáveis de que não estamos sós e, instintivamente, recordei-me de todas aquelas incríveis aventuras, contadas nos inúmeros livrinhos de bolso que havia lido…”
V.A.D. em Cidónia
Imagem: A Face (www.nirgal.net/graphics/face.jpg)
De
**** a 27 de Fevereiro de 2008 às 19:41
"a voz do velho mestre ecoando forte nos vales da anamnesia" - esta forma de narrares a história - através das memórias anteriores que ecoam num momento presente e, a partir das quais o leitor vai, pouco a pouco, conseguindo compreender a trama - realmente consegue prender.
É um enigma deveras fantástico que, mesmo se venha (ou tenha vindo) a definitivamente a verificar ser apenas uma coincidência, não perde a sua espectacularidade. A experiência que preparaste ao teu personagem é deveras extasiante – sinto uma espécie inveja desta figura que nasceu na tua mente e que se aventura para tão longe :) . Numa escala mais pequena, também deve ter sido única a sensação dos primeiros olhos humanos a se depararem, sem qualquer aviso, com esta tão desconcertante imagem. Pouco mais tinha lido que um artigo ou dois sobre o tema – não é propriamente da minha geração – mas desperta um sentimento de estranheza, de maravilha inexplicável.
Assim "o objectivo apresentando-se muito mais amplo que a perigosa viagem até ao planeta vermelho" – um objectivo já de si grandioso, memorável, único.
Muitos beijos numa face que não esta marciana
E uma boa noite
Não tão fria, mas igualmente plena “de mistérios e sustentáculo de sonhos”
Sophia 
De
V.A.D. a 28 de Fevereiro de 2008 às 03:19
Gosto da técnica, os "flashbacks" como os do cinema aplicados a um conto, as memórias participando, activas, na construção do enredo... :-)
Os enigmas de Cidónia estão actualmente reduzidos à sua verdadeira dimensão, jogos de luz e sombra e lacunas nos dados enviados produzindo a fantástica imagem de uma face absurdamente humana... Contudo, não deixam de ser extraordinárias, as formas identificadas nas fotos mais recentes, a natureza encarregando-se de esculpir mesetas de maneira a iludir a nossa percepção...
Não podia deixar de pegar neste assunto e criar uma história à volta dele, mesmo sabendo que a realidade exclui a possibilidade de terem sido criaturas inteligentes a criar as belezas daquele fantástico local. Não posso deixar de me fascinar pelo "desconhecido" que Marte ainda representa. Espero ser capaz de continuar a agradar... :-)
Agradecendo as tuas palavras, desejo-te uma noite muito, muito agradável, amiga!
Um beijo e um enormeeeeeeeeee sorriso... :-)
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