A melodia do canto de algumas aves é uma das mais sofisticadas formas de comunicação do reino animal. E entender a sua complexidade é abrir as portas para um mundo inimaginado. Na verdade, estudos sobre a linguagem dos pássaros revelaram algumas notáveis semelhanças entre os cérebros destes e dos humanos, e trouxeram à luz informações surpreendentes sobre a forma como eles aprendem. Alguns dos sons emitidos, tais como o simples cacarejar das galinhas, são inatos, mas alguns cantores mais evoluídos desenvolvem o seu repertório através de uma misteriosa interacção entre o conhecimento aprendido e o herdado. Indivíduos de ouvido apurado imitam os mais velhos e, em algumas espécies particularmente versáteis, podem dominar mais de uma centena de temas. Descobriu-se ainda que o hemisfério esquerdo do cérebro controla o canto dos canários, da mesma forma que nos humanos controla a fala. Tal especialização, que se julgava exclusiva da nossa espécie, pode ser de extremo interesse para o avanço da neurologia.
Façamos uma breve consideração sobre o sistema límbico. Antigamente, pensava-se que esta área do cérebro relacionava-se exclusivamente com o sentido do olfacto; hoje, porém, sabe-se que ela está na base dos impulsos da alegria, da raiva, do sexo e da fome. Mal nos começámos a dar conta da extensão e da subtileza com que as nossas emoções, controladas pelo sistema límbico, permeiam cada aspecto do nosso comportamento. Não é de excluir a hipótese que os estados alterados de consciência sejam provocados por uma interacção perfeitamente sincronizada entre este sistema e o lóbulo parietal inferior do cérebro direito. Em situações assim, quando este hemisfério revela à consciência certas percepções transcendentes, o despertar emocional é tão intenso que o cérebro esquerdo acaba por se convencer que elas têm validade, originando-se uma sensação de total comunhão entre o Eu e o Cosmos, aquilo que é chamado de Unidade Absoluta do Ser…
Imagem: Sistema Límbico (www.geocities.com/alexeiplatypus/sistema_limbico_icon.jpg)
Normalmente, no nosso cérebro, as informações são transmitidas do hemisfério direito para o esquerdo através de uma espessa faixa de fibras nervosas, o corpo caloso. Contudo, nos casos alterados de consciência, existe uma espécie de desvio espiritual: os dados são encaminhados através do lóbulo parietal inferior do hemisfério direito, passando pelo sistema límbico, que pode, de certa forma, ser comparado a um centro de controlo das emoções. A maioria das mensagens enviadas pelo hemisfério cerebral direito é descodificada pelo hemisfério esquerdo e reinterpretada na sua própria linguagem analítica. Cabe lembrar que a comunicação verbal é função do cérebro esquerdo e que a forma como este processa os dados é tão-somente uma aproximação à mensagem original emitida pelo direito. Desta forma, por exemplo, a maior parte daqueles pensamentos desencadeados pela observação de uma paisagem majestosa ou de um pôr-do-sol esplendoroso, que poderiam despoletar sensações demasiado vagas e metafísicas para o hemisfério esquerdo, jamais penetram no domínio da mente consciente. Em circunstâncias vulgares, o máximo que se faz é um comentário, um chavão, a respeito da beleza da vista ou das cores do crepúsculo. (Continua)
Imagem: Corpo Caloso (www.brainexplorer.org/brain-images/corpus_callosum.jpg)
Os processos neurológicos subjacentes àqueles episódios de regozijo que acompanham o acto de resolver um problema difícil, ou àquela sensação de júbilo que nos inunda quando observamos um crepúsculo particularmente belo, ou ainda àqueles lampejos de inspiração que por vezes nos conduzem a um estado alterado de consciência, em que nos sentimos uma parte pequena mas importante do Universo, talvez expliquem como o cérebro interage com a impalpável realidade da mente. As alterações espontâneas dos estados de consciência podem ser entendidas através de modelos neurológicos propostos por alguns pesquisadores. Cada um dos hemisférios cerebrais tem o seu conjunto de funções específicas, sendo o esquerdo o responsável pelo pensamento lógico e analítico, enquanto o direito controla as aptidões artísticas, musicais e estéticas. Ou seja, o cérebro direito está associado a uma apreensão mais imediata da totalidade, enquanto que o esquerdo precisa de tempo para assimilar partes mais ou menos compartimentadas do mundo que os sentidos lhe fazem chegar. (Continua)
Imagem: Actividade Neurológica (www.theodynamics.com/boss/BOSSsymbol1.jpg)
“O espírito esboça, mas é o coração que modela”
Antigamente, e apesar de Hipócrates, o coração era, popularmente, o centro absoluto das emoções e da memória. Memorizávamos a tabuada e sabíamos recitá-la de cor, isto é, de coração. Nos nossos dias, embora esta e outras expressões ainda sejam usadas, e apesar de sentirmos que o nosso coração bate mais depressa quando nos emocionamos, temos plena consciência de que é o cérebro o centro de controlo das funções fisiológicas, de registo das memórias e lar das emoções. Hoje, termos como neurónio, sinapse e sistema nervoso entraram no nosso léxico e a neurologia, a par com a astrofísica, tem sido a ciência que mais progrediu nos últimos anos. Algum dia, talvez, os cientistas determinem com exactidão o endereço do domicílio de cada uma das milhentas funções do cérebro. Por enquanto, e apesar dos enormes avanços, ainda existem mais enigmas na mente do que supõe a nossa frágil inteligência.
Imagem: Pensador (Rodin) (http://toon.heindl-internet.de/paris/a500/5C240025-paris-penseur-musee-rodin.jpg)
Quando pegamos numa maçã, percebemos a sua posição, o seu tamanho, a sua forma, a sua cor, a sua textura, a sua dureza e a sua temperatura ao mesmo tempo. Todos estes parâmetros são entendidos simultaneamente e parecem misturar-se; a experiência tem uma unidade à qual chamamos maçã. Cada ser humano tem dentro da cabeça um hiperespaço de n dimensões, ou seja, uma rede de células nervosas que pode acomodar uma variedade quase infinita de padrões, cada um correspondendo a eventos ou objectos únicos. Einstein postulou um hiperespaço de quatro dimensões, um modelo do Universo que consiste nas três dimensões do espaço físico – comprimento, largura e altura – acrescentado de uma quarta dimensão, o tempo. Mas um hiperespaço pode ter um número qualquer de dimensões acima de três. De facto, se o tempo pode ser considerado uma dimensão, porque não podemos fazer o mesmo com a textura, ou com a cor, ou a temperatura? Ou qualquer uma de outras infinitas características de um objecto? Porque não? Provavelmente porque estamos amarrados aos nossos preconceitos. Até o próprio conceito de tempo enquanto dimensão não nos é intuitivo…
Imagem: Pensamento (Rodin) (http://www.cartage.org.lb/en/themes/Arts/scultpurePlastic/UnderstandingSculpture/Patina/WhatisPatina/AugusteRodin/rodinthought1.jpg)
Não podemos pensar no cérebro como se de uma máquina ou de um computador se tratasse. A informação proveniente dos neurónios sensoriais chega ao cérebro não como resultado de uma corrente transmissora ou da transferência de dados tal como a conhecemos no âmbito da informática, mas sim devido a um padrão de actividade nervosa, criado pela estimulação simultânea de centenas de milhares de fibras nervosas paralelas. Uma vez que cada neurónio é ligeiramente diferente de todos os outros, ele experimenta a sua própria versão de um objecto ou de um evento. Desta forma, quando estimulada ou solicitada, cada fibra dispara impulsos nervosos com a sua própria frequência e codificação. O padrão de transmissão, ou seja, quais as células que são activadas e em que frequência, produz uma imagem interna a que chamamos de pensamento. Numa analogia interessante, consideremos um acidente de automóvel, presenciado por um grande número de pessoas. Cada individuo tem a sua própria perspectiva do que sucedeu, mas o desastre pode ser reconstituído acuradamente a partir do consenso de todas as testemunhas.
Imagem: Pensamento (www.chetart.com/portfolioimages/thought.jpg)
Vivemos simultaneamente em dois universos. O nosso mundo tem duas partes, como uma maçã cortada ao meio; a linha de corte passa exactamente pelo centro do nosso corpo. O cérebro, responsável pela gestão dos dois semimundos em que vivemos, é também separado em dois hemisférios, o direito e o esquerdo. Cada um deles controla exactamente metade do nosso corpo e monitoriza metade do ambiente que nos circunda. Consideremos duas células, uma em cada lado da linha mediana do nosso corpo. Embora possam estar a apenas dois centésimos de milímetro uma da outra, as mensagens que enviam e que recebem do encéfalo viajam por caminhos inteiramente diferentes. Seria razoável esperar que a informação sensorial e motora respeitante ao lado direito do corpo fosse tratada pelo lado direito do cérebro. Mas, na natureza, nem sempre a explicação mais óbvia é a correcta. Por alguma misteriosa razão, cada metade do corpo está ligada à metade oposta do cérebro. Contudo, apesar desta separação, cada um dos vários milhões de neurónios de um dos hemisférios consegue, de alguma forma, retransmitir os dados para o outro lado, de maneira a que as decisões sejam tomadas em conjunto. O nosso sistema nervoso reintegra os dois mundos naquilo que nós sentimos como um todo coerente.
Imagem: Maçã
Os melhoramentos cognitivos, induzidos pelas hormonas durante os períodos de gravidez e lactação, aparentam ser duradouros, persistindo até uma idade avançada. Embora os estudos deste fenómeno tenham sido centrados sobretudo em roedores, é verosímil que as mães humanas também beneficiem a longo prazo com a maternidade, dado que a maioria dos mamíferos apresentam comportamentos maternais muito semelhantes, provavelmente controlados pelas mesmas regiões cerebrais. Alguns pesquisadores sugerem que o desenvolvimento deste comportamento teve um papel fulcral na evolução cerebral. À medida que os mamíferos se distanciavam dos seus antepassados reptilianos, a estratégia reprodutiva alterou-se significativamente; deixou de ser pôr os ovos e seguir, e tornou-se parir e defender o ninho. As vantagens selectivas desta nova abordagem podem ter favorecido a emergência das mudanças comportamentais induzidas pela acção das hormonas.
Conhecemos e veneramos a nossa mãe. A mão que embala o berço realmente domina o mundo.
Imagem: Mãe e Filho (http://i1.trekearth.com/photos/22036/madre_e_hijo_escultura.jpg)
Fonte: Sci-Am
As mães não nascem mães, fazem-se mães. Nos mamíferos, desde os ratos aos humanos, todas as fêmeas passam por um profundo processo de alteração comportamental durante a gravidez e a maternidade. Dantes devotadas às suas necessidades e conveniências, as mães tornam-se criaturas muito mais focadas nos cuidados e no bem-estar da sua descendência. Embora os cientistas se tenham apercebido há muito desta transição, só agora começam a compreender o que a causa. Novas pesquisas indicam que as dramáticas flutuações hormonais que ocorrem durante a gravidez, o parto e a lactação podem remodelar o cérebro feminino, aumentando o tamanho dos neurónios em algumas áreas e produzindo alterações estruturais noutras. Algumas das zonas onde estas modificações se dão estão relacionadas com a regulação dos comportamentos maternais, o que é perfeitamente lógico. Contudo, áreas relacionadas com a memória, com a aprendizagem e com as respostas ao medo e à tensão, são igualmente afectadas positivamente. Experiências recentes com roedores mostraram que fêmeas que já deram à luz superam fêmeas virgens em desafios como a navegação em labirintos ou a captura de presas. O incremento qualitativo de certas capacidades aumenta as hipóteses de sobrevivência da prole.
Imagem: Progesterona (www.3dchem.com/imagesofmolecules/Progesterone.jpg)
Fonte: Sci-Am
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
. Melodia
. Biologia Transcendental (...
. Biologia Transcendental (...
. Biologia Transcendental (...
. De Cor
. O Cérebro Maternal - part...
. O Cérebro Maternal - part...
. Blogs
. Abrupto
. Feelings
. Emanuela
. Sibila
. Reflexão
. TNT
. Lazy Cat
. Catinu
. Marisol
. A Túlipa
. Trapézio
. Pérola
. B612
. Emanuela
. Tibéu
. Links
. NASA