Terça-feira, 25 de Março de 2008

Retorno

                   

“Viajo pelos dias sem tempo, em vislumbres de eternidade, tendo no futuro um aliado, não esquecendo o passado, vou em busca da verdade. Sou diáfana duplicidade, pensamento etéreo e esfumado, imaginação de um simples momento, furacão destruidor e violento ou pacífica serenidade. Nunca havia viajado assim, sentado na nuvem que corre, em direcção ao infinito. Percebo a vida, calo o grito: antes de renascer, tudo morre… Às artérias, o sangue acorre, termina a ilusão, acaba-se o mito. (No espelho de quem sou vejo a imagem de mim.) Ao meu corpo regresso por fim; é a unificação que ocorre!”

V.A.D. em Retorno

Vídeo: Viagem da Mente (Place 8 – Kattoo) (www.youtube.com/watch?v=Lh-vrNMph9c)


publicado por V.A.D. às 02:17
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Segunda-feira, 22 de Outubro de 2007

Pensamento De Mim

Milhares de impulsos electroquímicos atravessam o meu cérebro a cada instante, formando padrões de coerência invejável ou de louca desarmonia. Imagens vagas dissolvem-se quase instantaneamente, assim que acabam de ser formadas, enquanto outras permanecem vívidas e bem delineadas como se tivessem sido captadas por uma fabulosa câmara fotográfica, manejada destramente por um sabido retratista. Mapas de analogias e metáforas são desenhados a traço fino pelo topógrafo linguístico que às vezes se encarrega de as transmutar em sons, enquanto mantenho uma conversação com alguém. Compêndios de palavras são consultados e deles extraio, a cada segundo, os termos que parecem melhor definir os conceitos que fervilham na minha mente. Esquissos daquilo que me parecem ser grandes ideias acabam por ser evacuados como se de pútrida matéria fecal se tratassem e, às vezes, redescubro uma porção de lugares dentro da minha cabeça onde me é desagradável estar. Nas mais das vezes, os raciocínios não me envergonham. Posso é não ter a capacidade de os partilhar…

Imagem: Pensamento de Mim (http://exper.3drecursions.com/apo/just_a_moron_thought_of_mine_reprised_tmb.jpg)

música: Dream A Little Dream Of Me (Diana Krall)

publicado por V.A.D. às 01:07
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Terça-feira, 16 de Outubro de 2007

Deambulações

Pé ante pé, deambulo pelos recantos fulgentes do meu ser, encontrando a cada passo um velho sentir, renovado de tão esquecido, a adolescência perdida agigantando-se diante de mim, irreverente e saudavelmente louca, desengonçada e ruidosa como uma dança caótica. Despojo-me de preconceitos e exulto com o brilho das luzes, panorama mirabolante de mil tons, combinação auspiciosa e infinita de cores. A cada expressão, nasce um orbe de tumultuosas emoções, surpreendentemente aconchegantes e arrebatadas, borbulhantes e enérgicas, mas também suaves como o aveludado crepúsculo dos dias estivais. A cada olhar, cresce a ilimitada certeza de que a existência é uma promissora sucessão de alvoradas, cada uma desigual de todas as outras, cada uma plena de acasos e rotinas, cada uma trazendo aquela antecipação saborosa do que pode acontecer. A cada passo, é levantada uma poeira fina e luzente de ouro… Sim, porque neste edifício que sou eu mesmo, não há só plúmbeas teias de aranha…

Imagem: Brilho (http://images.astronet.ru/pubd/2006/06/20/0001214544/leoregulus_croman.jpg)

música: Hold Still (David Fonseca & Ana Rita)

publicado por V.A.D. às 03:10
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Quinta-feira, 19 de Julho de 2007

Sonhar

Estamos tão acostumados ao facto de os nossos sonhos serem acompanhados de imagens visuais que é difícil imaginá-los de outra maneira. Mas, e os cegos? Com que sonharão eles? Os relatos na primeira pessoa indicam que a capacidade de sonhar não depende da capacidade de ver, ou mesmo de ter visto algum dia. Sonham da mesma maneira que percebem o mundo, através de sons, de texturas, de cheiros e de paladares. Produzem-se sensações idênticas às dos sonhos visuais e os pesadelos são igualmente perturbadores. Os que não são cegos de nascença parecem ser capazes de se lembrar do sentido perdido e o seu cérebro introduz nos sonhos imagens inventadas, embora baseadas em pessoas ou paisagens já vistas. Os sonhos não são assim uma simples tradução nocturna daquilo que vemos. Eles são criações da mente de quem dorme, reciclando impressões registadas pelos sentidos disponíveis e formando, por vezes, uma narrativa tão, tão coerente…!

Imagem: Sonho

música: Daydream (Lupe Fiasco & Jill Scott)

publicado por V.A.D. às 02:32
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Quinta-feira, 22 de Março de 2007

Divagações

"O pensamento é difícil de conter, leve, correndo para onde lhe agrada."

Gautama Buda, em o Dhammapada

O poder de sonhar e de estar alerta, a capacidade de idealizar e de compreender, a aptidão de calcular e de antever, a habilidade de criar e de apreciar, a faculdade de divagar e de analisar... Talvez mais do que qualquer outra maravilha do Universo, é assombrosa a acção da mente, até quando conduz os meus dedos, à medida que para aqui transcrevo os meus pensamentos, nela e por ela gerados. A mente trazuz raciocínios em palavras e ordena-as em frases que podem ser lidas, interpretadas e entendidas. São transmitidas opiniões, sensações, experiências, teorias e divagações, próprias de quem grafa, mas partilhadas, aceites ou refutadas, interessantes ou superficiais. A mente desenvolveu uma forma de se comunicar com outras mentes distantes no tempo; recusa os limites do imediato. Não quer estar enclausurada num espaço restrito, quer horizontes mais largos. Busca a interacção e cria meios para a atingir. Não se imobiliza; age e evolui.

Imagem: Mente (www.yogavasistha.com/_derived/mind.htm_txt_pool.gif)

música: Come Along With Me (Titiyo)

publicado por V.A.D. às 01:09
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Sexta-feira, 26 de Janeiro de 2007

Medusa

"Levada pela corrente, agitada pelas vagas, violentamente arrastada por todo o poder dos oceanos, a medusa deriva na maré abissal. A luz atravessa-a, penetra-a a sombra. Levada, agitada, arrastada de qualquer lado para um lado qualquer, a medusa pende e oscila. No seu interior movem-se curtas e rápidas pulsações, tal como as vastas pulsações diurnas palpitam no mar que a Lua domina. Pendendo, oscilando, pulsando, esta que é a mais vulnerável e insubstancial das criaturas tem, para sua defesa, a violência e o poder de todo o oceano, ao qual confiou o seu ser, o seu movimento e a sua vontade.

Mas eis que surgem agora os inflexíveis continentes. Os seus baixios de areia grossa e as suas falésias de rocha erguem-se despidamente da água para o ar, para esse terrível espaço exterior de esplendor e instabilidade, onde a vida não encontra apoios. E agora, agora as correntes desviam e as vagas atraiçoam, quebrando o seu ciclo sem fim, para subirem num estrondo de espuma contra rocha e ar, quebrando... Que poderá a medusa fazer, toda ela produto do mover do mar, da segurança da água, da inquietude da corrente..., que poderá ela fazer na areia seca da luz do dia...?

Que poderá a mente fazer, cada manhã, ao acordar?"

Adaptação de excerto de O Tormento dos Céus, de Ursula K. Le Guin

Imagem: Medusa (http://terresacree.org/images/jellyfish.jpg)

música: Nothing is Good Enough (Aimee Mann)

publicado por V.A.D. às 01:45
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