Segunda-feira, 31 de Dezembro de 2007

Breve História de Tudo (III)

                 

Inscritas em seis milhões e meio de anos, as marcas da inteligência vêm-se aprofundando, desde que, nas savanas do Sahel, os antepassados de nós próprios se ergueram, o Chade apadrinhando o mais antigo hominídeo conhecido, a evolução trazendo habilidade e sofisticação crescentes, a comunicação verbal e a expressão artística afirmando uma auto consciência cada vez mais firme, a capacidade de adaptação determinando a sobrevivência. Cento e setenta mil anos foram dissolvidos no rio da humanidade; descendemos de uma Eva negra, a migração de há cinquenta mil anos levando o homo sapiens para fora de África num imparável preencher de continentes com a espécie à qual pertencemos. Alguns membros da família humana desapareceram nas brumas de passados longínquos, outros ainda foram contemporâneos do Homem, a inaptidão ou a miscigenação levando a um fim de modo algum inglório. A árvore da vida é feita de incontáveis ramificações, o tronco assente sobre as raízes das primeiras moléculas capazes de se auto-copiar, cada ser à face do planeta descendendo de um antepassado comum, quatro mil milhões de anos de evolução contínua gerando a indescritível e maravilhosa miríade de organismos. Um novo ano acerca-se rapidamente. Que em 2008 sejamos capazes de enaltecer o prodígio da vida!

Vídeo: Evolução Humana (www.youtube.com/watch?v=ZQrkJchlldA)

 

Feliz Ano Novo!


publicado por V.A.D. às 01:18
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Domingo, 30 de Dezembro de 2007

Breve História de Tudo (II)

                  

A vida está em todo o lado, desde os mais profundos abismos até às altitudes elevadas, desde os vales mais secos até às montanhas geladas, desde a temperada superfície continental até aos mananciais ferventes do leito oceânico. Começou com uma simples molécula de RNA, capaz de criar réplicas dela própria, a energia e os aminoácidos em profusão proporcionando o assombro. Adaptou-se, evoluiu e conquistou o planeta. Diversificou-se no período Câmbrico, há mais de meio milhar de milhões de anos, como nunca havia sucedido, a invenção da reprodução sexuada facultando a explosão de novas espécies num intervalo de tempo absurdamente curto, a inovação permitindo a ocupação de novos nichos ecológicos, os organismos de complexidade cada vez maior saindo do oceano para avassalar terra firme. Incontáveis espécies floresceram e viram descer sobre elas as trevas da extinção, a competição ou os cataclismos determinando um fim abrupto. Outras tantas ainda hoje se mantêm à face do planeta, contendo ainda parte dos genes originais, mas dissemelhantes do que foram. Há sessenta e cinco milhões de anos, após o fim dos dinossáurios, um grupo de pequenos, nocturnos e arborícolas mamíferos insectívoros, chamados Euarchonta, inicia a especialização que irá resultar nas ordens dos escandentes, dos lémures voadores e dos primatas. Eram os primeiros esboços da humanidade.

Vídeo: Vida na Terra (www.youtube.com/watch?v=Cghq8gA398s)

Música: Sìgur Ròs


publicado por V.A.D. às 02:57
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Quinta-feira, 27 de Dezembro de 2007

Breve História de Tudo (I)

                   

E a matéria e o tempo nasceram com o Universo, cada um deles representando o papel que a Grande Arquitecta lhes conferiu, engendrando subtis e grandiosas coisas que a nossa mente e os nossos olhos, atentos, podem perceber. Emanámos do interior das estrelas, há milhares de milhões de anos, sob a forma de elementos nascidos da fusão nuclear, os tijolos antigos da nossa construção a serem agregados pelas forças originadas na grande explosão, a matéria diversificando-se em fantásticas transmutações energéticas, a tabela periódica ganhando conteúdo. No ilusório vazio das vastidões universais, a química pré-biótica gera as moléculas precursoras do prodígio da vida, o sortilégio dos aminoácidos resultando de ligações de átomos diversos ao carbono aglutinador, é como que semente a lançar à terra, as nuvens de poeira cósmica, os cometas e os asteróides disseminando a possibilidade biológica que vem a dimanar num pequeno planeta girando à volta de uma estrela comum, na periferia de uma galáxia como tantas mais, a panspermia garantindo a fecundação de um mundo até então inanimado. Nos mares da Terra, a agitação dos infindáveis ciclos de nascimento, reprodução e morte, substitui a esterilidade velha de três mil e quinhentos milhões de anos…

Vídeo: Origem da Vida - Panspermia (www.youtube.com/watch?v=x08ALWRar4E)


publicado por V.A.D. às 00:05
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Quarta-feira, 17 de Outubro de 2007

Edifício

Vejo-me como um edifício em contínua construção, redesenhado a cada momento, edificado com os tijolos das experiências vividas, rebocado com os conhecimentos que vou adquirindo, pintado com as cores variadas das emoções. A minha mente é a parte mais elevada da casa, o sótão onde guardo velhas mobílias, sobre as quais me empoleiro para olhar a janela do futuro. Fundações de alguma solidez e um terreno firme garantem, aparentemente, a estabilidade almejada. Sismos e furacões, cheias e canículas racham paredes e arrancam telhas, descoloram a tinta fina de areia que cobre a minha sanidade. Os trabalhos nunca estarão completos… Das amplas e arejadas varandas, contemplo infindáveis planícies de descoberta, promessas de inovação e maravilha. Na cave, soturna de mim, cheira ao mofo das contrariedades; sombras fantasmagóricas revolteiam-se nas paredes húmidas de desalento.  Um dia, o edifício ruirá e, sobre os restos decrépitos daquilo que foi outrora uma estrutura impossível, sobre os escombros dispersos pela terra molhada, nascerão as ervas daninhas da indiferença. Mas, por enquanto, ainda há andaimes…

Imagem: Edifício

música: Building A Mystery (Sarah Mclachlan)

publicado por V.A.D. às 02:54
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Quarta-feira, 25 de Abril de 2007

Existência

Tantas e tantas vezes nem de nós sabemos. Temos apenas vislumbres fugazes da nossa complexidade, e cada gesto, cada olhar, cada movimento que fazemos, pode nem depender do nosso pensamento consciente. Temos a ilusão do controle, mas muitas vezes quem nos rege são as partes mais antigas do nosso cérebro, donas dos instintos e das emoções. Tantas vezes agimos impensadamente, e os resultados dessa acção podem assumir aspectos tão diversos... A racionalidade, que gostamos de ter como certa, é jovem sob o ponto de vista evolutivo e revela-se muitas vezes insipiente e titubeante; nem sempre a lógica racional empregue assenta sobre bases sólidas, podendo criar nós no fio do pensamento, tornando-o cheio de irregularidades, dificultando a compreensão do eu e dos outros. Por outro lado, a análise que fazemos dos dados que possuímos mostra-se por vezes certeira e julgamos, temporariamente, que somos detentores do dom da infalibilidade… Podemos ser babilónios, guiados muito pelos instintos e pela intuição, seres errantes ao sabor das vagas dos sentidos e das emoções, olhando apenas o presente, ridicularizando o passado e não prestando atenção ao futuro. Podemos ser gregos, interessados na ordem dos fenómenos, atraídos pelo aparato lógico e olhando a cronologia como um mapa que nos direcciona num tempo que há-de vir e que se torna presente a cada instante. Creio que as diversas facetas da personalidade de cada um coexistem e complementam-se, transformando a existência num desafio permanente, numa inquietude serena, ao invés de se limitar a uma pasmaceira acéfala.

Imagem: Existência (http://neosurrealism.artdigitaldesign.com/)

música: Ignorância XL (Chullage)

publicado por V.A.D. às 02:46
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Quinta-feira, 15 de Fevereiro de 2007

O Como e o Porquê

Um antigo filósofo grego, Heráclito, disse uma vez: "O carácter determina o destino." Penso nisto enquanto me entrego a divagações. O que Heráclito disse é meia verdade. Toda a gente tem um carácter singular, e esse carácter é influenciado pelo ambiente. E todo o ambiente é único; não há nenhum lugar ou nenhum tempo iguais as outros quaisquer. O carácter de uma pessoa integra o ambiente em que a pessoa se desloca, e o ambiente determina as oportunidades e limitações com que a pessoa se confronta. O ego é inflenciado pelo ambiente. O destino determina o carácter. Talvez esta seja outra meia verdade.

Outro sábio antigo, hebreu e não grego, disse: "Há um tempo para agir e outro tempo para não agir." Será esta uma verdade inteira? Não agir não será , em si, um acto? Estamos perante uma outra meia verdade, portanto. O nosso entendimento do mundo baseia-se muitas vezes em meias verdades. Estamos muito mais interessados no "como" do que no "porquê". Pensamos que é possível viver a nossa vida meditando somente no "como", mas um ser humano só é completo se sondar o "porquê". Sem se conhecer a causa, nunca será possível compreender o efeito.

música: Sweetest Decline (Beth Orton)

publicado por V.A.D. às 01:33
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