Terça-feira, 20 de Novembro de 2007

Mudança (III)

                  

Imensas correntes oceânicas, transportando incomensuráveis massas de água, circulam através dos oceanos, modelando as condições atmosféricas. Tempestades eléctricas rasgam a noite com deslumbrantes descargas de energia, enquanto nuvens negras de chuva assombram a superfície de um planeta que respira, que se movimenta, que chora e padece, que evoluciona e frutifica, animado por um sopro de vitalidade, instilado pela querença da Grande Arquitecta, as dinâmicas e cíclicas variâncias climatéricas resultando num maravilhoso e precário equilíbrio. Tudo devemos à prodigiosa torrente de energia, proveniente da Estrela Mãe, qual centelha que ateia e ceva os mecanismos, em contínua operação, de toda e qualquer estrutura biofísica, numa veemente recusa de condescender à estagnação. A vida, abraçando todos os recantos, floresce pela luz, a máquina dos estados do tempo é posta em movimento por desigualdades na quantidade de calor recebida em latitudes diferentes, e até o humor dos meus iguais varia em função de céus limpos ou de dias nublados. Ventos ciclónicos ou brisas cálidas, dilúvios bíblicos ou secas infernais, temperaturas gélidas ou amenas tardes estivais, nada mais são que manifestações de um clima num sempiterno ciclo de mudança.

Imagem: Mudança das Estações (www.youtube.com/watch?v=hH8UMbzgIAE)

 

música: Weather With You (Crowded House)

publicado por V.A.D. às 01:38
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Domingo, 30 de Setembro de 2007

A Ilha

“Sentia por todo o corpo um rumorejar profundo, um murmúrio quase inaudível de muito baixa frequência, e a sua origem fundamental, instintivamente pressentida, provocava em mim uma inquietude surda e angustiante de tripas em revolvimento, a antecipação insofismável de um evento poderoso e potencialmente catastrófico… E o silêncio, quase perfeito, amplificava aquela sensação de apreensão que me envolvia e sufocava… Subitamente, um jacto sinistramente escuro rasgou as águas em direcção ao céu azul, seguido por uma sucessão incrivelmente rápida de muitos outros, que se iam salpicando de pontos de um branco imaculado, que logo se dilatavam para formar rolos de fumo. Em alguns segundos, a Grande Arquitecta conseguira mudar a paisagem: do mar fervente erguia-se agora uma torre colossal, com centenas de metros de diâmetro e um quilómetro de altura, fantasticamente móvel, torcida de volutas em turbilhão, rasgada por repuxos renovados sem cessar, fendida por explosões simultâneas, espalhadas como os dedos abertos de uma mão imaginária. Até onde a vista alcançava, o vento estendia um véu imenso e negro de cinzas finas, que se entranhavam em todos os poros e dificultavam a respiração. A erupção submarina iria continuar por alguns meses, depositando no leito do oceano toneladas de material arrancado às entranhas da Terra, até que uma nova ilha surgisse…”

V.A.D. em A Ilha

Imagem: Erupção Submarina (http://www.damninteresting.net/content/surtsey_eruption.jpg)
música: Volcano (Damien Rice)

publicado por V.A.D. às 01:24
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Sábado, 4 de Agosto de 2007

Hadeano

Queria descer os abismos do passado e retornar à alvorada dos tempos. Queria voar sobre o incandescente oceano de magma, aquecido pela fornalha radioactiva alimentada pelos elementos pesados, gerados há incontáveis evos no interior de supernovas nunca vislumbradas. Queria assistir à formidável chuva de meteoritos, qual fogo de artifício a riscar céus negros como breu, e presenciar os eventos cataclísmicos resultantes de tal portentoso espectáculo. Queria maravilhar-me com a desolação hadeana e assistir à dança rodopiante dos pedaços de Terra fazendo a Lua. Queria olhar directamente para o jovem Sol, ainda pálido e sem forças, e sentir na pele a feroz força da radiação crua. Queria sentir nos meus pulmões, por breves segundos, a estranha mistura de gases que compunham aquela atmosfera nova, de cor laranja, onde cada vez mais nuvens carregadas de água iam largando dilúvios. Queria ver o nascimento dos primeiros rios, sobre os primevos basaltos… Queria viajar no tempo e ver…

Imagem: Hadeano (http://www2.uol.com.br/sciam/imagens/materia/abre_terra.jpg)

música: Time (Allan Parson's Project)

publicado por V.A.D. às 03:00
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Quinta-feira, 31 de Maio de 2007

Mudança

“Só a mudança permanece”

(Heráclito de Éfeso)

Tudo nasce, cresce, envelhece, degenera e morre. E mesmo que haja um novo nascimento, uma nova vida, também isto é variação, e o que surge de novo seguirá o mesmo interminável ciclo. A mudança não é exclusiva dos seres vivos; está em toda a parte. Erguendo-se com lenta majestade, e desgastando-se por uma erosão ainda mais lenta, grão após grão, cume após cume, as montanhas nascem e morrem. A crosta terrestre está em movimento, quase imperceptível, mas constante: uma maciça placa tectónica afasta-se de outra para formar um novo oceano, e nesse trânsito colide com outra ainda, enrugando-se na forma de uma nova cadeia montanhosa. Sob a superfície, correntes de convecção magmáticas, lentas mas poderosas, são os agentes deste eterno movimento, que divide continentes, para mais tarde os juntar, ao ritmo de uma pulsação longa de muitos milhões de anos. Mais abaixo, no núcleo de ferro líquido, há redemoinhos que geram o campo magnético da Terra, o qual cresce de intensidade, só para mais tarde enfraquecer, morrer e renascer com polaridade invertida, brincando com bússolas e com pombos, e deixando desorientadas as pobres borboletas. A natureza parece insegura e desconfortável, para nós, seres humanos, que buscamos a permanência sob as asas do eterno e do imutável.

Imagem: Lava (www.pbs.org/wgbh/nova/volcano/images/anat_lava.jpg)

música: Rollin' and Tumblin' (Bob Dylan)

publicado por V.A.D. às 02:40
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Quinta-feira, 25 de Janeiro de 2007

Geodínamo

A maioria de nós está acostumada a pensar que as bússulas apontam sempre para o norte. Desde há muitos séculos que os marinheiros confiam no campo magnético de Terra para navegar. Pássaros e outros animais magneticamente sensíveis também o fazem há muito tempo. Estranhamente, no entanto, os polos magnéticos do planeta nem sempre foram orientados da mesma forma que hoje. Os minerais que registam as orientações passadas do campo magnético revelam que ele já se inverteu centenas de vezes durante a história de 4,5 mil milhões de anos do nosso planeta. A última inversão ocorreu há 780 mil anos, tempo consideravelmente maior do que o período médio entre inversões, que é de cerca de 250 mil anos. O que é mais relevante é que o campo geomagnético primário sofreu uma redução de cerca de 10% desde que foi medido pela primeira vez por volta de 1830. É possível que isto seja o prenúncio de uma outra inversão. Os geofísicos sabem há muito que a resposta sobre as oscilações do campo magnético está nas profundezas da Terra. O nosso planeta, como outros do Sistema Solar, gera o seu próprio campo por intermédio de um dínamo interno, que cria campos eléctricos e magnéticos a partir da energia cinética das suas partes móveis, como se de um vulgar gerador se tratasse. Dentro da Terra, o que se move é um fluido condutor, um vasto mar de ferro derretido com mais de cinco vezes o volume da Lua.

Imagem: Campo Magnético Terrestre (www.altairostia.org/crop/campo_magnetico.jpg )

Fonte: Sci-Am

música: Mad World (Gary Jules)

publicado por V.A.D. às 02:15
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