"Considerei fechar definitivamente o baú dos sonhos, mas quedei-me, hesitante... Faria assim algum sentido, a vida...?"
V.A.D. em Sonhos
“Do Androids Dream of Electric Sheep?”
Philip K. Dick
Vídeo: Love Theme – Blade Runner (www.youtube.com/watch?v=C9KAqhbIZ7o)
“Era um globo em relevo de um mundo, parcialmente em sombras, girando sob o ímpeto de uma mão gorda que refulgia com anéis. Estava colocado numa armação, numa parede de uma sala sem janelas, e cujas outras paredes estavam cobertas por uma verdadeira manta de retalhos feita de manuscritos, livros-filme, gravações e bobinas. A luz brilhava na sala vinda de bolas douradas suportadas por campos suspensores móveis. Uma secretária elipsóide com um tampo de madeira petrificada, cor-de-rosa, estava no centro da sala. Cadeiras Veriform rodeavam-na, duas delas ocupadas. Numa sentava-se um jovem de cabelos negros de cerca de dezasseis anos, rosto redondo e olhos carrancudos. Na outra estava um homem esguio, baixo, com rosto efeminado. Ambos olhavam para o globo e para o homem, meio escondido nas sombras, que o fazia girar. Um riso sufocado fez-se ouvir. Uma voz de baixo rugiu, emergindo do riso…”
Excerto de Dune, de Frank Herbert, escritor norte-americano de ficção científica, nascido em 1920 e infelizmente já falecido. Adaptada ao cinema por David Lynch, esta obra tem sido considerada um dos expoentes máximos deste género literário, e nela são abordados temas que vão desde a religião até à política, analisando as eternas ambições humanas e propondo uma cada vez mais premente aliança entre o Homem e a Natureza.
Imagem: Dune (Schoenherr) (http://i107.photobucket.com/albums/m312/KarenAK/Elfwood/Schoenherr-Dune-500.jpg)
Os livros são uma das minhas paixões, a ficção científica é o meu género favorito, e há uns dias, num alfarrabista, descobri "As areias de Marte", a primeira novela de ficção científica escrita por este génio visionário. A odisseia pessoal de Arthur C. Clarke começou numa pequena vila inglesa, no dia em que lhe deram um cartão com um desenho de uma ave pré-histórica. A partir desse momento a sua mente iniciou a jornada através do espaço e do tempo. Ele construiu um telescópio com cartolina e lentes simples e foi então ajudar a fundar a Sociedade Interplanetária Britânica. As suas primeiras histórias de ficção científica, escritas no seu tempo livre, foram publicadas em 1937, impressas em mimeógrafo manual. Deficiências de visão impediram Clarke de receber treino para piloto durante a Segunda Guerra Mundial, mas ele pôde trabalhar no pioneiro projecto de radar da Real Força Aérea. Durante esse período, publicou um artigo na Wireless World em que descrevia a sua concepção do satélite de comunicações geoestacionário, uma ideia que teve que esperar duas décadas para se materializar. No King's College de Londres obteve, em 1948, o bacharelato em matemática e física, com honras de primeiro aluno. Viria a ser pouco depois que veria publicada a sua principal obra de não-ficção, Vôo Interplanetário, e o livro que deu origem a este post. Quando o Sputnik I foi posto em órbita em 1957, Clarke subitamente começou a parecer um autêntico visionário. Algumas das suas previsões mais interessantes estão à beira da concretização, como o fim dos automóveis movidos a gasolina, a substituição de alguns produtos agrícolas por proteínas produzidas artificialmente, ou ainda a colonização de outros planetas.Outras são já uma realidade: a pílula anticoncepcional, a ida do Homem à Lua, a transmissão de TV via satélite, centros de comunicações transcontinentais na maioria dos escritórios (videoconferência) e a existência de espaçonaves tripuladas fazendo viagens regulares. The Sentinel, um conto curto escrito em 1948, serviu de ponto de partida para uma das maiores obras de ficção científica de sempre, 2001 - Odisseia no Espaço, colocada em 1968 no grande ecrã pelo genial realizador Stanley Kubrick. Em 1982, Clarke continuou o épico com uma sequela que viria também a dar origem a um filme: 2010 - A Odisseia Continua.
Termino este post citando Clarke: "Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia".
Imagem: Arthur C. Clarke (www.health.uottawa.ca/biomech/csb/laws/clarke.jpg)
Este Natal fui agraciado com alguns presentes deveras interessantes, e neste lote estava incluído este eterno clássico do cinema, datado de 1973, que conta a história de Henri "Papillon" Charriére, acusado e condenado por homicídio. Desterrado para a colónia penal de Saint Laurent, na Guiana Francesa, nunca se resignou a pagar por um crime do qual sempre se disse inocente. Tentou por diversas vezes evadir-se, até que finalmente o conseguiu, após anos sob condições totalmente desumanas. Um filme com desempenhos magistrais de Steve McQueen no papel de Papillon e de Dustin Hoffman como Dega, companheiro de prisão. Impressiona o realismo das cenas, impressiona a crueza com que é retratado um sistema prisional que assumidamente não serve para a reabilitação, mas impressiona sobretudo a tenacidade de um homem que perante a adversidade nunca se vergou. Vi o filme ainda criança, retive na memória algumas das cenas, mas o que me verdadeiramente marcou foi a noção de que um espírito verdadeiramente livre não pode ser amordaçado. Revi o filme ontem. Tal como um espírito livre, este filme não envelhece.
Imagem: Papillon Poster ( www.impawards.com/1973/papillon_ver1.html )
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