“Não quero ter pressa. Quero ser capaz de passar pelo tempo como se ele fosse minha propriedade, o andar decidido e a cabeça erguida assinalando aquilo que sou. Quero parar pelo caminho num reacender de memórias, a renovação de quem sou sendo feita pela condensação num momento inacabável daquilo que é intemporal. Quero olhar o futuro em todas as direcções, escolhendo, mesmo que o erro seja manifesto, um passo atrás não representando mais do que a consciência de que o desacerto é parte do inacabável processo de aperfeiçoamento. Quero saber da alegria de reencontrar velhos amigos, perdendo-me em conversas sem prazo delimitado, comprazendo-me com as vivências, assimilando as experiências, aprendendo que pouco sei. Quero admirar a subtileza de pequenos gestos, a gratidão interpretando a reciprocidade e não simulando o pagamento daquilo a que se não deve atribuir um preço. Quero partilhar-me, as minhas faces desiguais sendo mostradas sem dissimulações ambíguas e artificiais. Quero aperceber-me das peculiaridades de mim mesmo para almejar o entendimento dos outros. Preciso, para tudo isso, de me alienar do constante tiquetaque que me enche, ouvidos e mente, de uma ânsia abstrusa de chegar a lado nenhum…!“
V.A.D.
Imagem: Espelho (http://img.photobucket.com/albums/v160/darkloud/MirrorHand2.jpg)
Ele tinha medo das estrelas, sempre tivera medo delas. Eram a representação visual de tudo quanto era desconhecido e impossível de alcançar, a perturbante diegese da sua própria insignificância e a velada asseveração de que a humanidade teria ainda um longo caminho a percorrer até ser capaz de domar as distâncias incomensuráveis que a separavam de outros sistemas planetários onde talvez enxameassem descoincidentes formas de vida, quem sabe o silício sendo o elemento aglutinador da biopoese ou o carbono engendrando organismos donos de eminentes inteligências. E, contudo, olhava o céu nocturno com a desmesurada ânsia de se deixar ir na nave do pensamento, até a um daqueles bicos de alfinete, ardente e desinteressado de tudo, as reacções termonucleares inflexivelmente alheias a conjecturas de um simples adolescente criando, ao seu redor mas sobretudo no seu cerne, um Universo de invenção, alimentado pelas ilusões tão admiravelmente construídas nos livros de ficção científica em que se costumava perder, as horas parecendo minutos, o tempo chegando a parar no isolamento agorafóbico das bastas letras que o avassalavam. Nunca abdicou de se maravilhar com os enigmas de um Cosmos prolífico e, em muitos momentos claustrofóbicos, ainda se deixa distrair pela miríade de centelhas que povoam o firmamento…
Imagem: Estrelas (www.le.ac.uk/ph/faulkes/web/images/stars.jpg)
Meti-me à toa por um atalho do tempo para a procurar, os olhos castanhos brilhando de prazer e as rugas de expressão sulcadas em sorrisos abertos dando-me o ar despreocupado de quem bebe um café numa manhã solarenga de um domingo qualquer. Não raras vezes, captei aqui e ali uma impressão confusa de símbolos entre parênteses, a estrutura complexa das matemáticas dando-lhe um significado tão vasto e profundo que a minha mente recuava instintivamente, o receio de ser arrastado por aquela desmesurada força vital agindo como se o pânico da luz me empurrasse para a sombra. E então, desobstruía-se a razão num fluir de noções muitas vezes intuídas, as esquivas imagens geradas nos interstícios sinápticos urdindo a tapeçaria da compreensão, o entendimento nascendo frágil da incerteza progenitora, a minha face tornada esfíngica pelo esforço da concentração. Por vezes pergunto a mim próprio se a realidade não passará de um simples holograma ou se nada mais é que o resultado de meros pensamentos, uma absurda diversidade de palcos sendo povoada por actores inventados. Quase sempre persuado-me da tangibilidade de tudo, a verdade absoluta ao alcance do intelecto mostrando-se perfeita mas absolutamente esquiva, cultivando um absoluto poder de sedução…
Imagem: Verdade (http://static.flickr.com/118/292949477_64c13cbdbb.jpg)
Procurar é o nosso destino
Na demanda vai-se crescendo
Constrói-se o saber, vivendo
A estagnação é desatino
Na descoberta reside o prazer
A vida só assim sabe bem
Não valeria nada, nem um vintém
Sem este caminho a percorrer
Em explosões trovejantes, escrevo com letras tremidas, arquitectadas em muitas vidas, umas apagadas e outras, vibrantes. Espalho palavras sentidas, chamas frouxas, sumidas ou clarões intensos e ofuscantes. Às vezes, pinto telas em tons brilhantes: libertando emoções reprimidas, cruzo fronteiras proibidas, fazendo viagens alucinantes. Partilho experiências vividas, umas cinzentas e monótonas, outras, belas e excitantes. Usando a pobre imaginação, novos mundos são arquitectados; coerentes ou desenquadrados, representam a minha visão. Factos simples e desgarrados, eventos irreais e sonhados, ou teorias da conspiração… Hipótese ou firme constatação, feita de delírios amalucados ou de segura investigação. Assim são estes bocados, caóticos ou ordenados, feitos de sentimento e razão…
Porque este lugar completou, esta semana, um ano de existência.
Imagem: Escrever (
www.business.utah.edu/humis/photos/organization_953_1164255704ROUNDED600.jpg )
Não deixam de ser absurdas as diferenças que se verificam no tratamento que é dado a situações similares. Infelizmente, a forma como o caso da menina inglesa tem sido tratado revela, no meu entender, a subserviência dos portugueses em relação aos estrangeiros. Refiro-me em especial à maneira como tem sido abordado pela comunicação social, mas não deixo de apontar o dedo às autoridades. Quantos e quantos casos têm havido, envolvendo crianças portuguesas, sem que tenhamos sequer sabido da sua ocorrência? Quantos raptos, quantos desaparecimentos têm envolvido os meios humanos e materiais que foram agora accionados? Afirmo que devem ser feitos todos os esforços para que o(s) autor(es) deste crime seja(m) apanhado(s) e devidamente punido(s), mas friso também a necessidade de se tratarem todas as pessoas de forma igualitária. As mães e pais portugueses que vivem dramas semelhantes têm toda a razão quando expressam o seu descontentamento por verem que afinal até existe abundância de meios, mas que, por qualquer motivo obscuro, não é utilizada para a resolução das situações trágicas pelas quais passam. Devemos também questionar-nos sobre essa coisa imaterial chamada “vontade política”, que só existe para algumas coisas e para outras parece ser algo de mitológico. Atentemos, por exemplo, na vergonha nacional que é o caso "Casa Pia". Ao fim destes anos todos, em que ponto está? Será que tem sido abafado por supostamente envolver figuras públicas? Onde está a tão propalada justiça? Será que só tem mão pesada para alguns, e deixa que outros fiquem impunes? Se de facto a vontade política se manifestasse no sentido de erradicar de uma vez por todas alguns dos males que empestam a sociedade, estou certo de que muitos crimes não seriam cometidos. Espero que a pequena Madeleine seja encontrada sã e salva, mas faço votos para que todos os casos sejam investigados com o mesmo fervor e empenho.
Imagem: Crianças
Nem sempre as coisas são tão simples quanto gostaríamos que fossem. Nem sempre as olhamos com um olhar sem preconceitos, de forma a podermos ver a essência. Nem sempre a essência se revela, por muito que nos esforcemos. Às vezes é melhor nem nos esforçarmos. Se tivermos que entender, entenderemos, nem que não seja no tempo em que gostaríamos de entender. Pena é que, tantas vezes, o entendimento chegue tarde. Ou aparente chegar tarde. O entendimento chega quando tem que chegar; não é uma marioneta que possamos comandar, nem é um mero processo intelectual. Para ser atingido, sentimentos, ideias, conhecimentos e percepções sensoriais têm que cooperar de forma síncrona. O entendimento é a visão global e aparentemente intuitiva da realidade.
Imagem: Luz (http://files.myopera.com/plusenter/pics/light%20from%20a%20dead%20star.jpg)
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