“Subir o rio era o mesmo que viajar para trás, até às primeiras idades do mundo, quando a vegetação transbordava da terra e as árvores reinavam. Uma torrente deserta, um grande silêncio, a floresta impenetrável. O ar era quente, espesso, muito pesado e mole. A luz solar não tinha alegria. Longos troços de rio deserto perdiam-se por lonjuras de enorme sombra. Nas margens de areia prateada, hipopótamos e crocodilos tomavam lado a lado banhos de sol. (…) Uma pessoa perdia-se naquele rio (…) e acabava por julgar-se vítima de um feitiço, isolada para sempre do que até ali conhecera, sei lá onde, muito longe, talvez noutra vida. (…) Era uma vida de silêncio que parecia não ter qualquer paz.”
Excerto de O Coração das Trevas, de Joseph Conrad, romancista de origem polaca. Nascido em 1857, viveu a traumática experiência da ocupação russa até conseguir a nacionalidade britânica em 1884. Nesta obra, que reflecte o choque entre colonizados e colonizadores, o autor conduz-nos às trevas da selva africana e, simultaneamente, às do coração humano.
Imagem: Zambeze (www.junglephotos.com/africa/afscenery/sunsets/zamsunset.jpg)
As imagens desenhadas por aquele homem, naquela praia perdida na noite dos tempos, depressa foram esbatidas pelas ondas da maré-cheia, que varreram a areia mas não a ideia. Espantosa, a forma como uma visão viria a crescer lenta mas seguramente, a ponto de refazer a concepção que os humanos tinham do mundo. Aquele homem havia inventado a escrita. Como os nossos ancestrais perceberam, esta nova forma de expressão podia conter muito mais informação do que a simples memória, com uma precisão nunca antes alcançada. Ela podia conduzir os pensamentos muito além dos meros sons, podia fazê-los chegar a pontos distantes e podia, inclusivamente, perpetuá-los. Pensamentos profundos, nascidos numa única mente, podiam ser espalhados como poeira num dia ventoso e sobreviver à sucessão infindável dos dias. As estórias seriam agora melhor preservadas e a História tinha acabado de nascer…
Imagem: Escrita Pictográfica Hitita (www.proel.org/alfabetos/picthiti.html)
Há muitos milhares de anos, um homem sentado numa praia olhava a vastidão do oceano, mergulhado em pensamentos e conjecturas. Subitamente ergueu-se, dirigiu-se à beira de água para recolher um pequeno pau trazido pela maré e começou com ele a mexer na areia que estava a seus pés. Guiou-o com todo o cuidado por curvas e rectas e, olhando o que tinha feito, sentiu uma suave satisfação a iluminar-lhe o rosto. Outros homens repararam naquele indivíduo desenhando na areia. Olharam para as figuras que ele traçara e, embora todos reconhecessem de imediato as formas familiares de peixes, pássaros e árvores, levaram algum tempo a entender o que o homem pretendera dizer ao criar aquelas formas. Mas, assim que perceberam o que o outro fizera, sorriram de satisfação. Aquele pequeno grupo de humanos não fazia ideia das dimensões da revolução que estava a começar…
Imagem: Símbolo (http://www-static.shell.com/static/br-pt/images/shellsolar/solar_areia.jpg)
"Escondidos sob frondosos montados de azinheiras e sobreiros, ou espreitando por cima de campos de seara, mais de meio milhar de antas e uma vintena de menires guardam as lendas, os sonhos e as angústias das primeiras comunidades de pastores e agricultores, que há mais de cinco mil anos os ergueram"
Os megálitos (do grego mega, grande, e lithos, pedra), apesar do seu nome, não englobam somente enormes construções de pedra, mas também edifícios de pedra e terra ou de madeira e terra, denominadas megaxylon. Foram construídos com diversas formas: circulares, como túmulos rectangulares alongados com câmaras sepulcrais, as antas, em círculos de pedra ou madeira, chamados cromeleques, e também assumindo a forma de enormes pedras fincadas verticalmente no terreno, conhecidas por menires. A construção de grutas artificiais (tholoi), ou a utilização de grutas naturais para a concretização de cultos funerários é também uma característica deste fenómeno cultural do período Neolítico. Na Europa, os megálitos mais antigos datam do quinto milénio A.C., e a sua natureza é difícil de definir. Ainda se discute se o megalitismo tinha conexão apenas com o culto dos mortos, ou se implicava também alguma crença no além, ou se representaria alguma forma de religiosidade baseada na Natureza e na astronomia. De qualquer maneira, dele comungaram culturas amplamente separadas no espaço e tendo, de resto, bem pouco em comum. A cultura campaniforme, por exemplo, que construiu os megálitos da Europa Central, era desconhecida nas regiões ocidentais do continente onde, nessa mesma época, estavam em desenvolvimento outras culturas megalíticas. O megalitismo espalhou-se muito rapidamente, o que demonstra que na altura as comunicações entre grupos humanos eram mais dinâmicas do que se julgava possível até há um tempo atrás. Das ilhas do Mediterrâneo, da península Ibérica e da França, alcançou as Ilhas Britânicas, e difundiu-se para o leste, a partir do seu centro atlântico. Se se tratou da simples difusão de uma ideologia ou se, para além disso, comportou também movimentos de populações, é uma questão que ainda espera resposta.
Imagem: Stonehenge (http://antwrp.gsfc.nasa.gov/apod/image/0606/stonehenge_strasser_big.jpg)
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