Sábado, 27 de Março de 2010

Apontamento

Toda a matéria gera ao seu redor um campo gravítico, uma deformação na estrutura do Espaço, cujo grau de grandeza é proporcional à massa. É comum ver-se a representação pictórica deste conceito em imagens nas quais um objecto esférico, assente sobre uma superfície macia, altera a planura dessa mesma superfície. Contudo, a figuração usual é incompleta, na medida em que o Espaço é um volume tridimensional e não um plano sobre o qual os corpos celestes se deslocam. A deformação ocorre, pois, curvando o Espaço sobre si próprio. Se uma grande quantidade de matéria estiver concentrada numa região suficientemente pequena, o campo gravítico gerado encurvará de tal forma o Espaço em torno do objecto que ele ficará autocontido e isolado do resto do Universo por um horizonte de eventos.

Antes da Grande Explosão, toda a matéria e energia do Universo estavam contidas numa singularidade cósmica, o Ovo Primordial que tudo abrangia, negando peremptoriamente a exterioridade da tessitura espácio-temporal, numa nudez impossível de ser contemplada, na medida em que nem o horizonte de eventos pode existir no “não-espaço”. Destituída de sentido é pois a representação do nascimento do Cosmo como um evento passível de ser observado de um referencial que não o interior. O espaço-tempo – e as sete dimensões adicionais de curvatura a tender para o infinito – sempre existiram dentro do Todo, qualquer que fosse ou seja a sua finita dimensão.

 

Imagem: Singularidade (http://www.proetcontra.com/wp-content/uploads/singularity.jpg)


publicado por V.A.D. às 02:00
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Quarta-feira, 20 de Fevereiro de 2008

Universus

                   

“Nasci no instante que não pertence ao tempo, o passado e o futuro não fazendo sentido, o presente negando a sua própria validade pela eternidade inacessível. Surgi de um ponto infinitesimal, pleno de espaço ilimitado e de densidade infinita, a difícil concepção de tal ovo cósmico exigindo abstracção comparável a genuíno devaneio. Eclodi por mim mesmo, desmentindo a causalidade, afirmando a veracidade da génese espontânea nas dimensões dificilmente engendradas pela maior das inteligências. Brotei do nada, iludindo o caos original, arquitectando pulcras e organizadas estruturas, a lógica parecendo autêntica, o seu efectivo sentido escapando-se por entre os dedos da mão que cerram com desmedida força. Sou vazio que não é sinónimo de nada, a matéria definindo-se pela própria ausência, o estado de mínima energia desnudando a latência das coisas, numa oscilante hibernação que desafia o menos comum dos sensos. Sou campo quântico, essência primordial, as partículas imaginadas dançando ao ritmo pulsante de uma incessante flutuação do vácuo. Sou a extravagante virtude dominativa do ser sobre a sua antítese…”

V.A.D. em Universus

Vídeo: Across The Universe (The Beatles) (www.youtube.com/watch?v=lsuSCwTdxOo)


publicado por V.A.D. às 03:08
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Domingo, 27 de Janeiro de 2008

Firmamento

Ele tinha medo das estrelas, sempre tivera medo delas. Eram a representação visual de tudo quanto era desconhecido e impossível de alcançar, a perturbante diegese da sua própria insignificância e a velada asseveração de que a humanidade teria ainda um longo caminho a percorrer até ser capaz de domar as distâncias incomensuráveis que a separavam de outros sistemas planetários  onde talvez enxameassem descoincidentes formas de vida, quem sabe o silício sendo o elemento aglutinador da biopoese ou o carbono engendrando organismos donos de eminentes inteligências. E, contudo, olhava o céu nocturno com a desmesurada ânsia de se deixar ir na nave do pensamento, até a um daqueles bicos de alfinete, ardente e desinteressado de tudo, as reacções termonucleares inflexivelmente alheias a conjecturas de um simples adolescente criando, ao seu redor mas sobretudo no seu cerne, um Universo de invenção, alimentado pelas ilusões tão admiravelmente construídas nos livros de ficção científica em que se costumava perder, as horas parecendo minutos, o tempo chegando a parar no isolamento agorafóbico das bastas letras que o avassalavam. Nunca abdicou de se maravilhar com os enigmas de um Cosmos prolífico e, em muitos momentos claustrofóbicos, ainda se deixa distrair pela miríade de centelhas que povoam o firmamento…

Imagem: Estrelas (www.le.ac.uk/ph/faulkes/web/images/stars.jpg)

música: Kelly Watch The Stars (Air)

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Quarta-feira, 16 de Janeiro de 2008

Vi

                  

“Vi a expansão abrandar, a matéria escura potenciando a gravidade, o rasgo inflacionário fenecendo, esgotado de tão velho, incapaz de contrariar o poder da mais indomável das forças. Vi os longínquos exames de galáxias em aproximação, o Cosmo iniciando o encolhimento que encheu de luz o céu nocturno, antes quase desprovido de radiação, os frios pontinhos de luz substituídos por fogueiras vibrantes de energia. Vi-me livre da prisão corpórea, a levitação da mente proporcionando um panorama desusado, a invenção de uma bancada de onde um fabuloso espectáculo pôde ser admirado. Vi-me só, o resto de tudo caindo em direcção ao nenhures numa violência de choques que tudo fundia, a matéria aglomerando-se num caldo efervescente de quarks até a radiância se extinguir abruptamente. Senti o ovo cósmico formar-se, a implosão do velho Universo esvaindo o espaço do próprio espaço, o tempo afunilando-se no ralo da eternidade moribunda. Percebi o negrume que absorveu os resquícios de energia adensar-se até nada mais existir, a infinidade de tudo contida num invisível invólucro, a unicidade das forças revivendo o início num aparente fim, o interminável ciclo cósmico dando mais uma fase por terminada... Cessei de existir..."

V.A.D. em Vi

Vídeo: A Grande Implosão (http://www.youtube.com/watch?v=nJgY-ZPY0L0)


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Quinta-feira, 27 de Dezembro de 2007

Breve História de Tudo (I)

                   

E a matéria e o tempo nasceram com o Universo, cada um deles representando o papel que a Grande Arquitecta lhes conferiu, engendrando subtis e grandiosas coisas que a nossa mente e os nossos olhos, atentos, podem perceber. Emanámos do interior das estrelas, há milhares de milhões de anos, sob a forma de elementos nascidos da fusão nuclear, os tijolos antigos da nossa construção a serem agregados pelas forças originadas na grande explosão, a matéria diversificando-se em fantásticas transmutações energéticas, a tabela periódica ganhando conteúdo. No ilusório vazio das vastidões universais, a química pré-biótica gera as moléculas precursoras do prodígio da vida, o sortilégio dos aminoácidos resultando de ligações de átomos diversos ao carbono aglutinador, é como que semente a lançar à terra, as nuvens de poeira cósmica, os cometas e os asteróides disseminando a possibilidade biológica que vem a dimanar num pequeno planeta girando à volta de uma estrela comum, na periferia de uma galáxia como tantas mais, a panspermia garantindo a fecundação de um mundo até então inanimado. Nos mares da Terra, a agitação dos infindáveis ciclos de nascimento, reprodução e morte, substitui a esterilidade velha de três mil e quinhentos milhões de anos…

Vídeo: Origem da Vida - Panspermia (www.youtube.com/watch?v=x08ALWRar4E)


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Quinta-feira, 22 de Novembro de 2007

Mudança (V)

                  

Nascem astros em catadupa, uma vez mais a gravidade a ser protagonista, exercendo o seu efeito aglutinador, comprimindo a matéria abundante, elevando a temperatura até ao ponto em que os átomos de hidrogénio se fundem uns nos outros, ejaculando energia num nuclear êxtase de luz, gerando uma prole de novos elementos, parindo em tetania as peças elementares de que somos feitos. Discos de acreção, num remoinhante baile celeste, convertendo-se em minúsculas mas crescentes entidades, um cortejo protoplanetário em torno do luzeiro. Milhares de milhares de estrelas, aglomeradas em galáxias, vivendo até ao esgotamento do combustível, ruindo no final para dar lugar a uma nova geração, as ondas de choque dos estertores da morte servindo de rastilho à reorganização dos gases, um empurrão cinético que permitirá a ignição. Pélagos espaciais, milhões de anos-luz, preenchidos por longos e brilhantes fios galácticos, numa rede aparentemente homogénea e isotrópica, um universo finito mas ilimitado, expandindo-se eternamente ou, quem sabe, atingindo um ponto em que o retrocesso se tornará inevitável, até que, éons depois, a grande implosão tratará de devolver ao universo a singularidade. E o ciclo a repetir-se…

Vídeo: Nascimento, Vida e Morte de Uma Estrela (http://www.youtube.com/watch?v=za4KL0l89gw )

 


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Quarta-feira, 21 de Novembro de 2007

Mudança (IV)

                 

Diante dos nossos olhos, e tão difíceis de serem vistos, desenvolvem-se os jogos da matéria. Inauguraram-se, há quase catorze mil milhões de anos, numa fulgurante e inimaginável explosão, o vazio transformado em energia, o nada transfigurado em tudo, o tempo dimanando de onde antes nem a eternidade fazia qualquer sentido. Antecedentemente, apenas o inconcebível vácuo, desprovido de dimensões e de significado, ovo quimérico que poucos ousam controverter, ínfima bolha condensada de forças titânicas, encerrando-se a si própria, contendo o Universo. Mas, escutemos o tempo que, lenta ou velozmente, leva a cabo a sua obra, acordando a matéria, separando a gravidade das outras forças fundamentais, o incomensurável calor dos primeiros segundos esvaindo-se, a expansão inflacionária a consentir que germinem quarks, os quarks formando protões e neutrões, a génese dos elementos a acontecer, a verdadeira alquimia a ter lugar. E, quase meio milhão de anos depois, a luz, fúlgida e cintilante, irrompe intempestivamente da prisão da gravidade, enchendo o espaço com o seu brilho, iluminando os grumos de matéria em contínua transformação…

Vídeo: Aquém da Grande Explosão (http://www.youtube.com/watch?v=hSZqhqR5XKM&feature=related )


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Quinta-feira, 25 de Outubro de 2007

O Tempo, O Espaço e O Ser

Estava sentado nos degraus do alpendre, admirando a beleza daquele final de dia. Um sopro outonal descia a serra e trazia consigo os cheiros rodopiantes da Natureza, feitos de fragrâncias silvestres de flores e pinho. O sol descia para as trevas, enroupando o mundo ao meu redor com os tons avermelhados da luz cada vez mais débil; o céu parecia uma abóbada de dimensões infinitas, cheia de ar renovador e fresco. Não é comum encontrar-me com uma calma assim, desprovida de imbecis desassossegos. Era capaz de ficar ali a contemplar a dádiva que os meus sentidos absorviam, entregue a meditações, até ao fim de todas as eternidades. Será o interminável tempo do Universo apenas um infindável número de tempos que cessam de existir, dando lugar a renovados inícios, o ciclo permanente de nascimento e morte a uma escala incomensurável? O que é o tempo senão uma ideia de continuidade, demitida de sentido sem o espaço? Compreendi, subitamente, não só com o meu cérebro, mas com todo o meu organismo que, no fundo, conhecia as respostas… As minhas respostas...

Imagem: Universo (www.faemalia.net/USPictures/Backgrounds/universe.jpg)

música: At The River (Groove Armada)

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Sábado, 21 de Julho de 2007

Monstro Tenebroso

Se, numa noite límpida, olharmos para uma determinada direcção do espaço, para os lados da constelação de Sagitário, estaremos a olhar para uma região onde se ocultam os escombros monumentais de enormes quantidades de matéria que desmoronou sobre si própria, até se transformar num objecto extraordinário, diferente de tudo o resto que existe no céu. Escondido pelas poeiras e pelas moléculas interestelares, o centro da Via Láctea tem cerca de cinco anos-luz de diâmetro. É um agrupamento monumental de cerca de cinco milhões de estrelas e nele se abriga um desses raros corpos celestes: um buraco negro. Nestes objectos que desafiam a nossa imaginação, a velocidade de escape, função da gravidade, é tão elevada para lá do horizonte de eventos, que nem as partículas de luz conseguem escapar. No coração da galáxia vive um tenebroso e insaciável monstro devorador de matéria…

Imagem: Buraco Negro (Concepção Artística) (www.seedmagazine.com/news/uploads/BlackHole.jpg)


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Quinta-feira, 17 de Maio de 2007

Planetas Gémeos - parte 1

Vénus e a Terra foram criados ao mesmo tempo e sob condições quase idênticas, há 4,5 mil milhões de anos, nas quentes regiões internas da nebulosa solar primordial. Os cientistas concordam em que ambos os planetas formaram as suas atmosferas com a libertação de gases através da actividade vulcânica. Substâncias voláteis, como o dióxido de carbono e o vapor de água, além do enxofre e dos compostos de azoto, foram simplesmente vomitadas para fora das crostas dos dois planetas gémeos, em quantidades que se supõem idênticas. Contudo, a opressiva atmosfera venusiana é composta actualmente de 98 porcento de dióxido de carbono puro, enquanto na atmosfera terrestre este gás representa apenas cerca de 0,3 porcento do total. Além disso, a Terra é um planeta de água, com mais de dois terços da sua superfície cobertos por oceanos. Ao contrário, Vénus é completamente seco. Por causa destes contrastes, as questões levantadas sobre a diferente evolução destes dois planetas estão centradas em dois pontos: para onde foi todo o dióxido de carbono que deveria estar aqui, na Terra? E, por outro lado, o que aconteceu a toda a água de Vénus?

Imagem: Vénus e Terra (www.spitzer.caltech.edu/espanol/edu/askkids/images/venus_earth.jpg)

música: Private Investigation (Dire Straits)

publicado por V.A.D. às 02:26
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