"O mundo antropomórfico, o reino do Homem, aproxima-se do fim. A sua adoração e o seu despotismo, a glorificação da sua auto-estima e do seu meio, a "arte para a arte" e a "arte pela arte" estão ultrapassadas. A autonomia humanística e o automatismo surrealista só podem combater o declínio total através de uma conversão radical. (...) O Homem está a perder o seu lugar central na arte. Só após a falência do homem autónomo é que este reconhecerá que não é idêntico à falsa imagem que sacrilogamante criou de si mesmo. Mas se o Homem renunciar à imensa vaidade, se se conceber como uma ínfima parte do infinito, poderá encontrar o lugar que lhe compete. Então poderá dar-se a humanização e a identidade, na época da materialização, do tédio, do distanciamento. A glória do Homem, com as suas consequências - a sua destruição e a sua escravidão - é a decadência. É primordial que o Homem se liberte do peso das suas pretensões indevidas para criar um mundo orientado por uma ordem mais eterna."
Carl Lazlo, em Panderma 4, 1959
Imagem: Debbie II de H.R.Giger (www.giger.cz/17.html)
De nacionalidade suíça, H.R. Giger é um pintor, escultor e desenhador de cenários, galardoado com um oscar em 1980 pelo seu trabalho no filme Alien. Durante toda a sua carreira, Giger tem criado estranhas paisagens de pesadelo, contendo imagética com conotações sexuais e representações de corpos humanos e maquinismos, interligados numa simbiose surreal e fria. As suas obras, consideradas perturbadoras por muitos, são talvez extensões de uma desordem do sono que o atormenta com terrores nocturnos.
Este Natal fui agraciado com alguns presentes deveras interessantes, e neste lote estava incluído este eterno clássico do cinema, datado de 1973, que conta a história de Henri "Papillon" Charriére, acusado e condenado por homicídio. Desterrado para a colónia penal de Saint Laurent, na Guiana Francesa, nunca se resignou a pagar por um crime do qual sempre se disse inocente. Tentou por diversas vezes evadir-se, até que finalmente o conseguiu, após anos sob condições totalmente desumanas. Um filme com desempenhos magistrais de Steve McQueen no papel de Papillon e de Dustin Hoffman como Dega, companheiro de prisão. Impressiona o realismo das cenas, impressiona a crueza com que é retratado um sistema prisional que assumidamente não serve para a reabilitação, mas impressiona sobretudo a tenacidade de um homem que perante a adversidade nunca se vergou. Vi o filme ainda criança, retive na memória algumas das cenas, mas o que me verdadeiramente marcou foi a noção de que um espírito verdadeiramente livre não pode ser amordaçado. Revi o filme ontem. Tal como um espírito livre, este filme não envelhece.
Imagem: Papillon Poster ( www.impawards.com/1973/papillon_ver1.html )
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