Mesmo viajando a velocidades próximas às da luz, uma nave espacial gastaria quase dez anos numa viagem de ida e volta à estrela mais próxima. Se a duração desta jornada parece longa, a realidade mostra-se bem mais desanimadora. As velocidades exigidas pela aventura interestelar são humilhantes para os portentosos veículos actuais, maravilhas do engenho humano: impulsionados quimicamente, eles levariam cinquenta milhares de anos a atingir a Proxima Centauri. Contudo, se dispõe de um ainda precário arsenal espacial, a espécie humana conta com uma grande arma: a imaginação, impulsionadora dos mais incríveis avanços tecnológicos. Já somos capazes de vislumbrar algumas maneiras de realizar o velho sonho de alcançar as estrelas. A rigor, os entraves que persistem são meros problemas de engenharia. Usando fusão, fissão, antimatéria, laser ou iões como propulsão, conseguiremos seguramente enviar uma nave para além do nosso sistema solar. Resta saber quando. E há também outra questão: será relevante fazê-lo?
Imagem: Insígnia (www.colonization.biz/me/pics/sunshipc.jpg)
O lendário arquitecto e escultor da antiguidade tinha sido encarregado de construir o célebre labirinto para aprisionar o terrível Minotauro, fruto dos amores proibidos de Pasífae com um touro. Para escapar de Creta, onde o tirânico rei Minos o mantinha prisioneiro na sua própria criação, Dédalo fabricou asas com penas de pássaro, fixadas com cera, para si e para o seu filho Ícaro. Voou ileso até à Sicília, mas o seu temerário filho morreu: apesar dos avisos do pai, aproximou-se demais do Sol e a cera derreteu, desfazendo por completo as asas que o faziam voar, tendo caído no mar, perto da ilha grega que hoje se chama Icário. Engenhosa, a mitológica tecnologia desenvolvida por Dédalo não era contudo suficiente para chegar às estrelas. Será que existe algum meio capaz de proporcionar essa façanha, ou os arrojados projectos dos cientistas de hoje não passam de vãos exercícios experimentais? Por mais obstáculos que o Homem ainda tenha de enfrentar, estou certo de que os seus esforços dar-lhe-ão as ferramentas capazes de o habilitar finalmente à grande aventura: a concretização do velho sonho de viajar às estrelas.
Imagem: Ícaro (www.jampers.com/grega/icaro.jpg)
O que mais impressiona os sonhadores terrestres é o programa espacial de voos pilotados. Em Abril de 1961, os soviéticos tornaram-se os primeiros a colocar um homem no espaço. A honra coube a Yuri Gagarin, que num voo de 108 minutos circundou a Terra. Semanas mais tarde, os americanos empataram a corrida, com Alan Shepard a fazer um voo sub-orbital. Seguiram-se tripulações de dois e três homens, mas, afinal, o programa Apollo dos EUA conquistou a atenção mundial e deu a liderança a este país na exploração espacial. Iniciada por John Kennedy em 1961, esta aventura necessitaria de oito anos para transportar até à Lua o primeiro dos doze astronautas que pisaram solo extra-terrestre. A epopeia continua, com alguns reveses e atrasos, mas o sonho não acaba. “Não se pode pensar em parar”, escreveu, em 1932, Robert Goddard a H.G.Wells, “pois o objectivo de chegar às estrelas, tanto literal como figurativamente, é uma tarefa para gerações. De maneira que, não importa quantos passos se tenham dado, tem-se sempre a impressão de estar apenas no começo.”
Imagem: Descolagem da Apollo 11(http://earthobservatory.nasa.gov/Library/Giants/vonBraun/Images/apollo_11_launch.jpg)
Foi com o desenvolvimento dos mísseis balísticos de longo alcance, a partir dos foguetes V-2 alemães, que se deram os primeiros passos significativos no sentido de tornar realidade o sonho dos voos espaciais. Ao aperfeiçoar estas tecnologias da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e a União Soviética construíram armas que podiam viajar à velocidade de 30000 quilómetros por hora, necessária para escapar à atracção gravítica terrestre. Em meados da década de 1950, Werner Von Braun, que havia desenvolvido as V-2 e, após o conflito, tinha ido para os EUA, estava convencido de que um satélite artificial poderia orbitar a Terra. Sergei Korolev, chefe do programa de desenvolvimento de foguetes da URSS, concordava com essa opinião. A corrida espacial começou no dia 4 de Outubro de 1957, quando os soviéticos lançaram o primeiro satélite da história, o Sputnik-1. Mais uns poucos meses e lançariam a cadela Laika para o espaço, num laboratório científico automático: o Sputnik-2. Os EUA lançaram o seu primeiro satélite em 31 de Janeiro de 1958 e chamava-se Explorer-1. Para a realização destes voos, os dois países usaram mísseis balísticos modificados. Nas duas décadas seguintes, aprendeu-se mais sobre a Lua e nosso Sistema Solar do que todo o conhecimento que até então se tinha conseguido acumular, durante toda a história da astronomia. Os dois países enviaram naves a Vénus e a Marte. Além disso, os EUA realizaram um voo pelas proximidades de Mercúrio, pousaram laboratórios automáticos em Marte e as suas naves automáticas fizeram passagens rasantes sobre Júpiter e Saturno.
Imagem: V-2 (www.mda.mil/mdalink/bcmt/images/images_lg/v-2.jpg)
Gosto de pensar que, tão logo evoluiu a ponto de sentir-se aquecido, alimentado, abrigado e em segurança, o Homem passou a acalentar a ideia de voar. Erguer-se nos ares como um pássaro parecia fantástico, mas visitar a Lua e aqueles pontos de luz no céu, este era, na realidade, o verdadeiro sonho. Talvez o primeiro relato de uma aventura assim tenha sido escrito por Luciano de Samósata, satirista grego do segundo século da era cristã que, na sua obra Uma História Verdadeira, descreve uma viagem ao nosso satélite natural. Por centenas de anos, no entanto, ninguém chegou a compreender as imensas distâncias envolvidas nas viagens espaciais, nem o facto de que o espaço é essencialmente vazio. O entendimento do céu começou com Copérnico, que no século XVI mapeou o movimento dos planetas em torno do Sol. Um século mais tarde, Galileu salientou a importância das distâncias no espaço. Kepler calculou as órbitas elípticas dos corpos do Sistema Solar, e Isaac Newton formulou as suas leis do movimento, fornecendo a base teórica necessária para a criação de sistemas de propulsão no espaço sideral. Três pioneiros resolveram pragmaticamente os problemas básicos do voo espacial: o russo Konstantin Tsiolkovsky, o americano Robert Goddard e o alemão Hermann Oberth. Na literatura, Júlio Verne, no seu romance de 1865 Da Terra à Lua, e H.G. Wells em Os primeiros Homens na Lua, publicado em 1901, anteciparam algumas das aventuras por vir.
Imagem: Da Terra à Lua (http://orbita.starmedia.com/~conde_vargas/verne2.jpg)
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