Sábado, 28 de Julho de 2007

Há Meio Milhão de Anos

Estava-se na caprichosa época do Pleistoceno. A adaptabilidade era a chave da sobrevivência para qualquer espécie. O clima era incerto; os gelos avançavam e recuavam na Europa e na América do Norte, seguindo os padrões da precipitação em África. Numa savana semidesértica do continente que foi berço da humanidade, um pequeno grupo de hominídeos havia organizado o seu acampamento junto à margem de um ribeiro de águas límpidas e tranquilas. No horizonte, a oeste, uma cadeia montanhosa estendia-se, imponente, até se perder de vista. De um dos cumes saía um fumo branco e espesso e, de tempos a tempos, a montanha rugia, vomitando das suas entranhas pedras incandescentes que inflamavam as ervas altas e secas. A tribo sabia já usar aquela dádiva da Natureza. Serviam-se frequentemente do fogo para afastar os grandes predadores nocturnos, mas ainda não haviam considerado a hipótese de o usar para cozinhar os alimentos. Durante o dia, sabiam tomar conta de si próprios. Usavam machados de pedra e clavas com um aspecto não menos ameaçador...

Imagem: Vulcão "Ol Doinyo Longai" (www.mtsu.edu/~fbelton/flankview00.jpg)

música: Fire Starter (Prodigy)

publicado por V.A.D. às 02:51
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Terça-feira, 24 de Julho de 2007

Afrodite

A apreciação da beleza e o desejo de atingi-la são tão velhos quanto a humanidade, mas a ideia de que ela seja um atributo de um objecto sexual só apareceu, surpreendentemente, com Charles Darwin, na segunda metade do século XIX. Darwin, cuja curiosidade a respeito da evolução não deixou inexplorado nenhum aspecto desse tema, acreditava que a beleza estava relacionada com a sexualidade. No seu livro A Descendência do Homem faz um esboço da teoria da selecção sexual. De acordo com ele, os animais sexualmente mais atraentes têm mais êxito na conquista de um parceiro e maior probabilidade de deixarem mais descendentes. Desse modo, reflectia ele, se o acasalamento é guiado por esses padrões, a selecção sexual favoreceria as formas de beleza manifestadas na humanidade. Embora cada raça tenda a admirar as características que lhe são únicas e que a distinguem das demais, a beleza, a etérea, fugaz e indizível beleza, tem uma qualidade universal que transcende os critérios locais; em todos os lugares, ela suscita sempre admiração e prazer.

Imagem: Afrodite (Botticelli) (http://users.sch.gr/pchaloul/anagennisi/Botticelli-spring-Afrodite.jpg)

música: You Are So Beautiful (Ray Charles)

publicado por V.A.D. às 02:37
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Sábado, 30 de Junho de 2007

Estátuas

Há oito mil anos, os povos agricultores que habitavam a actual Jordânia, no Médio Oriente, não conheciam ainda a arte da cerâmica. Mas tinham ideias complexas e eram hábeis. Sabiam tecer um pano rudimentar e com ele amarravam talos e folhas de plantas para servirem de base a grandes estátuas de gesso. Com quase um metro de altura, essas figuras resistiram aos milénios e são notáveis exemplos de representação simbólica, criadas por uma das primeiras comunidade sedentárias da história da humanidade. Pensa-se que elas estavam associadas a uma forma simples de fé, um culto primitivo baseado nos mistérios da morte. É importante compreender os muitos rituais ligados à ideia da vida após a vida, da fertilidade e das relações entre o homem e a terra, tão disseminados entre os povos dessa fase da evolução cultural humana, para podermos entender o percurso social da nossa espécie.

Imagem: Estátuas do Neolítico - Jordânia (www.whitman.edu/anthropology/images/rollefson/Statues%2085-a.jpg)

música: The Air That I Breathe (The Hollies)

publicado por V.A.D. às 02:09
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Sábado, 16 de Junho de 2007

Consciência

Há trinta milhares de anos, nas profundezas da actual gruta de Chauvet, em França, o Homo Sapiens revelou um incrível talento. As formas que desenhou sobre as paredes de calcário denotam uma formidável matriz artística, um conhecimento íntimo da Natureza e do movimento, e uma capacidade inovadora e extraordinária de representar, não só o mundo que o rodeia, mas também aquele que é capaz de imaginar. Aquele que é o mais antigo traço conhecido de expressão pictórica é manifestamente o fruto de uma evolução que tem raízes nos ainda mais ancestrais membros da espécie humana, ela mesma filha da história da vida na Terra, velha de quatro milhões de anos. A vida deu à luz criaturas com a habilidade de apreender as realidades evidentes e, acima de tudo, capazes de assimilar e de transmitir aos seus semelhantes os impalpáveis pormenores de uma existência feita também de raciocínios abstractos. Este comportamento desconcertante baseia-se num fenómeno que não cessa de fascinar: a consciência.

Imagem: Chauvet (www.dinosoria.com/hominides/chauvet.jpg)

música: Paris Lounge (Gothan Project)

publicado por V.A.D. às 02:38
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Sexta-feira, 9 de Março de 2007

Híbridos?

Descobertas em 1952 na Roménia, e reexaminadas recentemente, ossadas de Homo Sapiens arcaicos, com cerca de 30000 anos, apresentam fortes semelhanças com os esqueletos de Homo Neanderthalensis, especialmente no que diz respeito ao crânio. A testa inclinada, a protuberância occipital e uma grande distância inter-orbital, são características marcantes da fisionomia dos nossos parentes extintos há cerca de 27000 anos. Segundo o paleontólogo norte-americano Erik Trinkaus, estas constatações reforçam a ideia de que houve um longo processo de contacto e miscigenação entre as duas espécies, durante os dez milénios de coabitação na Europa. Em Janeiro de 2003, Trinkaus, em parceria com João Zilhão, havia publicado em Lisboa uma monografia sobre o Menino do Lapedo, uma criança identificada como portadora de características típicas quer de homem moderno, quer  de neanderthal, e cujos restos mortais foram descobertos em 1998 no vale do Lapedo, perto de Leiria. Neste trabalho de 610 páginas, chamado Retrato do artista enquanto criança, é reafirmada uma posição polémica quem tem posto em polvorosa o mundo da antropologia, desde que foi exposta pela primeira vez em 1999. Para os autores, não há lugar a discussões: ao deixar África e colonizar a Europa, a humanidade moderna não exterminou os antigos habitantes do continente, mas, em maior ou menor grau, misturou os seus genes com os deles. E o esqueleto do menino pode ser a prova cabal disso mesmo.

Imagem: Neanderthal (www.frazettaartgallery.com/gallery/prints/8_neanderthal.jpeg)

Fontes: Science & Vie, Sci-Am

música: Somewhere I Belong (Linkin Park)

publicado por V.A.D. às 02:19
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