Domingo, 17 de Fevereiro de 2008

O Caos, O Acaso e A Borboleta

                   

Aquilo a que comummente se chama de acaso não passa de uma medida da ignorância, a disfarçada incapacidade de apreensão de todos os pormenores obrigando ao uso de um termo inadequado, a inabilidade de descortinar todas as cenas da peça levando à inadmissível exclusão do princípio de causalidade, a impossibilidade de reter cada um dos incontáveis eventos tornando indefinido cada um dos futuros possíveis, a mente sendo incapaz de abranger as infinitas variáveis de um Universo em permanente mutação. Algures, no mundo que partilhamos com Edward Lorenz, uma borboleta abandona uma flor, os subtis vórtices sob as suas frágeis asas gerando imperceptíveis correntes de ar, um pequeníssimo distúrbio da condição inicial trazendo consequências insólitas a milhares de quilómetros e duas semanas de espaço-tempo, o sistema físico onde vivemos apresentando-se-nos definitivamente como não-linear. Existem causas para tudo mas, quando multiplicadas numa figuração ainda que apenas aproximada à realidade, obtém-se uma caótica complexidade da qual será difícil extrair sentido aparente… Será mesmo assim? O caos pode ser assimilado e compreendido, a matemática revelando-se a derradeira ferramenta do conhecimento, a ciência da desordem estudando o comportamento aleatório, modelando-o e afirmando que, embora ocorram anomalias intrincadas, nem a casualidade escapa cabalmente às leis da Natureza…

Vídeo: Atractores Estranhos: Ordem no Caos (www.youtube.com/watch?v=SGWgCffiW4c)

Música: Mira Verra Qui a Virtus – Vision Leads to Virtue (Whisper Of The Garden)


publicado por V.A.D. às 23:58
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De **** a 22 de Fevereiro de 2008 às 01:06
"Aquilo a que comummente se chama de acaso não passa de uma medida da ignorância" - Tocaste numa área de estudo que me atrai dum forma muito especial (já escrevi algo sobre ele). Acho essa ideia de universo onde causas e efeitos se intelelaçam numa trama de cuja existência temos noção, mas que nunca conseguiremos compreender por completo. A teoria do Caos e o efeito borboleta, o princípio da incerteza e o da causalidade, abrem um novo universo de hipóteses, de conceitos e conhecimentos.
O famoso enunciado de Lourenz - um exemplo que não só facilita a compreensão desta ideia como também imprime um certo lirismo na teoria – acaba por nos fazer pensar nas na forma como um pequeno facto, um gesto, uma acção ou inacção – uma inóbil causa – pode ter repercussões acerca das quais poderemos nunca aperceber-nos – efeitos demasiado grandes para termos a noção deles.
Pequenas causas (efeitos de causas precedentes) podem gerar enormes efeitos (causas de efeitos subsequentes) – aplicando-se isto de forma tão universal como as leis da natureza. Por exemplo como é dito num livro que sei teres por aí – A Breve História do Tempo, de Stephen Hawkings – “se a carga eléctrica do electrão fosse ligeiramente diferente, as estrelas ou seriam incapazes de queimar hidrogénio e hélio, ou então não teriam explodido” – uma causa aparentemente pequena possibilitou a formação da variedade de elementos que temos na tabela periódica, a formação dos astros, o aparecimento de vida e estar agora aqui a escrever.

“O caos pode ser assimilado e compreendido”? – Não sei... já avançámos muito no estudo de áreas relacionadas - como os fractais em matemática - mas duvido que o venha a ser no meu tempo de vida. O que não tenho dúvida alguma é que vale a pena continuar a tentar afinal, se o bater das asas duma borboleta pode provocar um tufão, que fenómeno atmosférico poderá a acção humana desencadear?

Beijos
E desculpa o tamanho deste comentário ao teu fantástico texto, demostra que o caos realmente existe, nem que seja somente na confusão do meu discurso

Sophia


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