“Trazia neles negrume da noite, os olhos postos num ponto quimérico insinuando a melancolia dos crepúsculos cinzentos e o silêncio lacrimoso da desafortunada existência. O cabelo caía-lhe pelos ombros, uma anarquia desordenada de filamentos de azeviche ondulando ao sabor do vento catabático que soprava de norte, as costas voltadas ao sol numa obstinada recusa de quentura, a pedra onde se sentava fortalecendo a frialdade do Inverno tardio e persistente. Ausente num alhures diviso, a mente apartada esquecera-se do corpo dessensibilizado pelos sentidos desliados, a mágoa de algum indeclinável desencanto arrojando-a num precipício contrário à razão. Tocou-a ao de leve com a suavidade de um sussurro, o aveludado das palavras brotando dos seus lábios como uma carícia, a lhaneza de um olá arrebatando-a à catalepsia em que parecia estar deliberadamente mergulhada, o pestanejar redobrado denunciando o regresso à inteligível realidade, uma abrupta negação do abismo trazendo um sorriso embaçado. Respondeu-lhe com a firmeza espontânea de um olá, ele sentando-se junto a ela, ambos olhando a espuma branca que o vento arrancava às ondas…”
V.A.D. em Precipício
Vídeo: Edge Hill (Groove Armada) (www.youtube.com/watch?v=HEAhRhjtK58)
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