“Em alguns momentos de insólito destempero, tenho a impressão de, na presença de outros, não existir de todo. Olho à minha volta e congemino que ninguém, absolutamente ninguém, me está a prestar atenção. Os olhares alheados, fixos num infinito de quiméricos e falaciosos horizontes, parecem permear-me como se o meu corpo fosse feito do mais transparente e incolor cristal, deixando-me siderado pela insegurança de não ser. Decidem não me perceber como tangível; interrogo-me sobre a minha irrealizável invisibilidade e estremeço. Cai-se-me a compostura, imagino-me feito de esfumada fantasia, um mero desvario de uma mente desconchavada. Perco-me de mim, arrastado pelo caótico delírio de ter rasgado, amarrotado e deitado fora, o invólucro que é o corpo onde não caibo. E depois, a angústia. A aflição de apanhar do chão os pedaços dispersos pelo vento e reconstruir a arrevesada exterioridade. A urgência de me reunir à roupagem, para que o conteúdo encontre o formato. O receio de que o espírito soçobre, se se ausentar do organismo. A certeza de que só sou se for uno…”
V.A.D. em Algures.
Imagem: Intangível (www.paasonen.com/media/0000000518.jpg)
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