Sexta-feira, 30 de Maio de 2008

Eternidade

“E ali estava ele, sozinho e incapaz de se maravilhar com a beleza assustadoramente poderosa daquele simples crepúsculo, a vermelhidão do céu tornando-se violeta à medida que o sol se refugiava para lá do horizonte longínquo, as sombras tingindo o solo verde de relva em tons de negro, a suave brisa afagando-lhe o rosto agora sem rugas. Olhava em frente mas deixara de contemplar, perdera a habilidade de vislumbrar um futuro que se lhe oferecia insípido, as razões da sua existência confundindo-se com a desilusão da monotonia. Os pensamentos velhos e longos de séculos atropelavam-se na sua mente, definhando na exuberância da carne, a contínua e perfeita renovação dos músculos e das glândulas afundando-o numa atmosfera de futilidade, os dias infinitos impacientando-o, a eternidade há muito conquistada afigurando-se-lhe demasiadamente inane para merecer ser vivida. A sabedoria adquirida com o embranquecimento dos cabelos havia sido lentamente dissipada pelo desengano de um milhão de manhãs sempre iguais, o desapontamento levando-o a uma apatia cada vez maior, o cansaço das tarefas repetidas tornando-o pouco mais que um mero autómato, o algoritmo de si próprio revelando-se desatinadamente fastidioso…”
V.A.D. em Eternidade
Imagem: Eternidade (http://kabbalah4women.typepad.com/photos/uncategorized/2007/03/19/eternity.jpg)

publicado por V.A.D. às 03:00
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24 comentários:
De Fisga a 30 de Maio de 2008 às 18:41
Cheguei a pensar que se tratava de um irmão grémio que eu tinha se o saber, mas depois pela idade verifiquei que não podia ser, Eu tenho muito menos de 2.500 anos. Mas que criança sofre é verdade. Um abraço.


De V.A.D. a 31 de Maio de 2008 às 23:46
Já imaginou viver uma vida sem limites temporais? Já pensou na monotonia dos dias que se escoariam iguais, os pensamentos sendo repetidos quando a imaginação se tivesse já esgotado...? E se, além dessa infinita longevidade, a carne permanecesse sempre jovem? Não estaria a mente condenada a definhar...?

Amigo, não me referi a alguma criança, em momento algum...

Votos de um óptimo final de sábado e de um excelente domingo!

Um abraço.


De perola a 31 de Maio de 2008 às 19:38
Amigo,

Tenho estado muito ausente, mas vim aqui dar um beijinho e volto mais tarde para ler e comentar todos os posts em atraso.

Um beijinho e bom fim-de-semana!


De V.A.D. a 31 de Maio de 2008 às 23:51
Olá, minha amiga! :-)
Também eu tenho andado com enormes dificuldades de tempo, vendo-me assim impedido de visitar e comentar com assiduidade os blogs que aprecio. Por isso, entendo perfeitamente que por vezes se possa andar ausente... :-)

Desejando que te encontres bem, formulo os votos de que tenhas um magnífico fim-de-semana!

Um beijo e um enormeeeeeeeeee sorriso... :-)



De Pérola a 3 de Junho de 2008 às 22:34
Amigo,

Desde que esteja tudo bem, é o que interessa. :) Engraçado falares no embranquecimento dos cabelos, realmente tpode trazer-nos sabedoria, clareza, crescimento. Até mesmo a lidar com as tristezas.

Um grande beijinho.


De V.A.D. a 5 de Junho de 2008 às 02:43
Felizmente, amiga, está tudo bem. O tempo simplesmente tem sido escasso; compromissos de cariz profissional têm-me dificultado as visitas assíduas aos lugares por onde habitualmente passo. A curto prazo a situação alterar-se-á... :-)

Embora existam excepções, a idade, representada pela alvura dos cabelos, costuma trazer maturidade... :-)

Agradecendo as tuas gentis palavras, desejo-te uma magnífica noite, amiga!

Um beijo e um enormeeeeeeeee sorriso... :-)


De Café com Natas a 1 de Junho de 2008 às 02:41
Também viste o Pôr-do-Sol com muita atenção :)
Sabes V.A.D, eu tenho lido todos os teus posts, mas não tenho tido tempo para comentar como tu mereces.
Tu realmente escreves de uma maneira tão simples mas que apresenta tantas complexidade de interacções do teu pensamento sempre tão bem estruturadas que até assustam!
Lembras-te que uma vez te disse que assustava-me a tua escrita? É que tu fazes uma personificação tão boa do universo e das emoções que até mete mesmo medo, de tão boa que ela é!
Bem, vou dormir mas prometo que durante esta semana arranjo um tempo para colocar aqui as minhas observações à leitura dos teus textos (viagens pelo cosmos do pensamento :)
Beijinho e bom fds


De V.A.D. a 2 de Junho de 2008 às 02:30
Olá, amiga! :-) Sempre que posso, deixo-me levar pela beleza do pôr-do-sol; noutras ocasiões maravilho-me com outros aspectos da Natureza, sempre extraordinária nas suas subtis alterações...

Claro que me lembro de teres dito que a minha escrita te assustava... Sabes, certamente, que as tuas palavras cheias de amabilidade representam para mim um enorme incentivo.

Embora ande meio ausente da blogoesfera, por motivos profissionais que me têm consumido o pouco tempo de que disponho, também tenho lido os teus textos. Conto, a breve trecho, poder regressar aos comentários feitos com a assiduidade que eles merecem.

Agradecendo a simpatia que sempre tens deixado transparecer através das tuas visitas, desejo-te uma óptima noite e uma magnífica semana!

Um beijo e um enormeeeeeeeeeee sorriso... :-)


De Emanuela a 1 de Junho de 2008 às 03:33
Olá amigo,
"perdera a habilidade de vislumbrar um futuro que se lhe oferecia insípido".Isto para mim é o verdadeiro envelhecimento. Espero que a tua escrita seja feita de ficção,pois se ela for realidade precisarei acreditar que estás muito infeliz.
Beijos, bom domingo


De V.A.D. a 2 de Junho de 2008 às 02:44
Concordo em absoluto com a perspectiva que apresentaste, amiga. O envelhecimento do espírito traduzir-se-á, certamente, pela perda da capacidade de encararmos o futuro como algo de estimulante...

Amiga, embora em boa parte dos meus textos use as experiências vividas como base para a escrita, este é um exemplo de pura ficção, no qual o protagonista se vê perante a eternidade, os pensamentos repetidos até à exaustão, a mente afundando-se num desalento feito de rotinas...

Embora não acredite na continuidade do espírito após a morte física, penso muitas vezes na promessa de "eternidade", algo que é a base de muitas das religiões. Já imaginaste o desencanto, o cansaço, a monotonia de dias que se repetem para sempre...?

Desejo-te uma óptima noite e uma magnífica semana, amiga!

Um beijo e um enormeeeeeeeee sorriso... :-)


De Emanuela a 2 de Junho de 2008 às 03:01
Amigo, não imagino uma eternidade assim, de dias sucedendo-se, de tempo, de rotinas, de questionamentos... Acredito que ao "desencarnar", para se chegar a este lugar que denominamos céu, seja simplesmente um estado de espírito perfeito, integrado à tudo e por isto mesmo pleno. Não mais esta noção de envelhecimento, não mais qualquer tipo de insaftisfação. Mas apesar de sondarmos tanto os mistérios do universo, da finitude, acredito que
" agora vemos por espelhos, mas um dia veremos face a face"... Para mim, este pensamento é deveras o que me consola e nele espero.
Um grande beijinho para ti.
Desejos de uma boa semana!


De V.A.D. a 5 de Junho de 2008 às 02:55
Gostaria de poder olhar a eternidade como um lugar plausível, no qual se atingisse essa unificação que depreendo das tua palavras, amiga... Mas não sou capaz de o fazer. Acredito na matéria e nas leis da física; não consigo entender de que forma o espírito poderia sobreviver à morte do organismo que o "suporta"...

Apesar de tudo, vamos por momentos supor que essa unificação é atingida. Que mais haveria para fazer ou para sonhar...?

Desejo-te uma magnífica noite!

Um beijo e um enormeeeeeeeeeeeee sorriso... :-)


De **** a 1 de Junho de 2008 às 20:11
"... incapaz de se maravilhar com a beleza assustadoramente poderosa daquele simples crepúsculo..." - pelo contrário tu pareces conseguir fazê-lo e transmiti-lo em texto... realmente, meu amigo, adoro ler-te...
Muitas vezes é com ajuda da leitura que me consigo sentir menos "autómata"

A situação em que se vai "definhando na exuberância da carne" faz reflectir... O tempo foge-nos, estamos numa constante luta contra ele, temos tarefas tão esmagadoras que uma vida não dá para cumprir, queremos uma "sabedoria adquirida com o embranquecimento dos cabelos" mantendo a juventude nos séculos...
Contudo, neste momento amaldiçoaria quem me desse a imortalidade. A finitude e a sua gestão acaba por dar uma espécie de sentido à vida, mesmo quando mais nenhum a parece assistir. Acho que ainda me sentiria mais perdida se tivesse a eternidade à minha frente...
Por vezes já o " algoritmo de si próprio" se revela "desatinadamente fastidioso" e exige demasiado das nossas forças, mesmo sendo mortal, de outro modo seria uma existência completamente insuportável...

Tantos beijos
quantos fosse capaz de dar num multiverso de "eternidades"

Sophia


De V.A.D. a 2 de Junho de 2008 às 02:56
Obrigado, amiga... Sabes que é recíproco, esse sentimento que referes... :-)

Apreendeste por completo o sentido que quis dar a este meu texto. Creio que a perspectiva de uma vida sem fim é assustadora. Depois de anos ou de séculos, ser-se-ia incapaz de elaborar raciocínios novos, a mente definhando num lago estagnado de pensamentos repetidos, as necessidade de aproveitar bem o tempo tornando-se algo de absurdo, a apatia daí resultante levando a uma pasmaceira acéfala difícil de suportar...

Embora tenha sonhos de longevidade, dou-me por feliz por saber que existe um limite... :-)

Desejo-te uma óptima noite e uma magnífica semana, amiga!

Um beijo e um enormeeeeeeeeeee sorriso... :-)


De TiBéu ( Isa) a 1 de Junho de 2008 às 23:32
Adoro a tua forma de escrever. Boa semana bj


De V.A.D. a 2 de Junho de 2008 às 02:58
Obrigado, amiga :-) Sabes que esse sentimento é recíproco e, embora tenha andado meio ausente por falta de tempo, tenho lido assiduamente os teus textos.

Agradecendo os teus votos, também eu te desejo uma magnífica semana!

Um beijo e um enormeeeeeeeeeee sorriso... :-)


De My Way a 4 de Junho de 2008 às 11:44
Sem dúvida um lindo quadro pintado com letras...
Há momentos que deveriam durar para sempre... serem eternos.
Mas eternos somos nós, ao deixarmos na Terra, lembranças, obras, e muitas vezes palavras... como as tuas... são eternas.

Fica bem.


De V.A.D. a 5 de Junho de 2008 às 02:47
Amiga, as tuas palavras, cheias de amabilidade, enchem-me de satisfação, muito embora considere que aquilo que vou escrevendo está longe de poder ser eternizado...

Agradecendo a tua visita, desejo-te uma magnífica noite!

Um beijo e um enormeeeeeeeeeeeeee sorriso... :-)


De Maria João Brito de Sousa a 6 de Junho de 2008 às 15:18
Entrei em colapso "digital" aquando do TARDE DEMAIS e só espero não ter chegado tarde demais... não vá tu andares já por aí, a navegar pelos infinitos que tão bem nos sabes descrever... tal qual como se fossem espaços do teu dia a dia. Se ainda não foste recrutado
pela ESA espero que me dês uma breve palavrinha...
Eu tenho andado a navegar entre o sonho de publicar um livro (desta vez é que vai ser!) e o pesadelo de um PC avariado...
Não sei se chegaste a ir à minha homenagem...
Um grande abraço para ti e que a ESA te acrescente asas às tuas asas interiores!:-)


De V.A.D. a 7 de Junho de 2008 às 02:50
Olá, amiga :-) Nunca chegas tarde demais; é sempre com enorme prazer que te leio por este espaço. Como deves ter podido constatar, tenho andado arredado da blogoesfera, questões profissionais roubando-me o pouco tempo de que disponho, um novo projecto ocupando-me de forma avassaladora até ao final deste mês, pelo menos.

Formulo o desejo de que esse teu sonho de publicar um livro se torne realidade, amiga!
Verifico com agrado que o colapso digital já está ultrapassado. Numa era de tecnologia, um PC avariado é algo de muito inoportuno.

Infelizmente não tive a oportunidade de comparecer à tua homenagem, mas espero que tudo tenha decorrido da forma que mereces.

Agradecendo as tua gentis palavras, desejo-te uma óptima noite e prometo que no final deste sábado visitarei o teu espaço que me encanta.

Um beijo e um enormeeeeeeeee sorriso... :-)


De Maria João Brito de Sousa a 7 de Junho de 2008 às 13:53
E eu que já te imaginava em treinos intensivos para um voo real... mas fico muito contente por te ver ainda nos voos virtuais! Gosto muito de te ler, embora nem sempre consiga tempo e o computador me "desmaie" nos braços cada vez que abro um blog ou tento fazer um comentário... estas naves antigas..
Um grande abraço!


De V.A.D. a 8 de Junho de 2008 às 01:37
Sinto, de facto, muitas saudades dos voos que fazia, enquanto estive ligado à aeronáutica. Foram alguns anos estupendos, alguns dos sonhos de criança realizando-se... Agora, alterada que foi a actividade, é através da escrita que cruzo os céus... :-)

Espero que os problemas informáticos se possam resolver sem demoras, amiga!

Agradecendo as tuas amáveis palavras, desejo-te uma excelente noite e um domingo magnífico!

Um beijo e um enormeeeeeeeeee sorriso... :-)


De alexiaa a 4 de Julho de 2008 às 21:42
Uma canseira essa coisa da eternidade não é? Já basta aqueles dias em que pensamos sentirmo-nos assim para sempre, a ingenuidade que nos impele para o desgaste…
Já não andava por este mundo há muito tempo mas nada é eterno, e os antirugas ajudam no processo do envelhecimento sem termos de recorrer ao tédio que seria andar cá para sempre:)
Um beijo cor de laranja!


De marisol2007 a 10 de Julho de 2008 às 18:26
Olá amigo...
Lindo como sempre .


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