“Sou Saf’tiah, a neurocirurgiã. A operação decorreu sem incidentes. Segundo os relatórios que o comando espacial fornecera, o único ocupante da nave alienígena acidentada fora encontrado sem sentidos, os sistemas de combate a incêndios havendo actuado antes que o frágil estrutura biológica tivesse cedido definitivamente aos horrores do fogo, a intervenção pronta da equipa de salvamento permitindo que a centelha de vida não se houvesse extinguido por completo. A injecção de sulfeto de hidrogénio levara aquele ser até ao misterioso limbo da animação suspensa, o metabolismo desacelerado permitindo a preservação da mente até que todo o encéfalo pudesse ser transplantado para um organismo estaminal, em tudo semelhante ao corpo de um de nós. Respondia aos estímulos, o sistema nervoso parecendo adaptar-se sem dificuldade à nova condição, os parâmetros da vida revelando-se estáveis, perspectivando uma recuperação a todos os títulos notável, tão notável quanto a semelhança genética que nos havia confundido a princípio.
Permanecem pouco mais de cem milhões de nós no planeta que viu nascer a nossa espécie, os restantes havendo partido há muito, requestando o futuro afiançado nas estrelas, num êxodo velho de milhares de milénios, os genes disseminando-se pela galáxia como uma epidemia de vida colonizando o desconhecido, o instinto de sobrevivência zelando pela continuidade. Quebraram-se os laços com o passado mais remoto, cataclismos de natureza diversa arrasando consecutivamente o edifício da história, destruindo o ensejo de confirmar de imediato o vínculo, que a minha intuição teimosamente afirma existir, entre aquilo que sou e o que aquele estranho representa. Anseio pela hora de o olhar nos olhos; quem sabe terei um vislumbre da sua verdadeira natureza…”
Só agora consegui ler os últimos capítulos de "Sol Vermelho". É um tema fascinante e difícil, para quem, como tu, comprova cientificmente cada voo da imaginação. Tu consegues tratá-lo de forma hábil e com coerência, prendendo o teu leitor às sensações daquele ser humano expoliado do seu corpo. Embora não entenda nada de química, pnso que tens um pequeno erro tipográfico neste último capítulo. Onde se lê "sulfeto de hidrogénio" deveria ler-se "sulfito", não? Posso estar erradíssima, claro... conforme afirmei, nada entendo de química... Abraço e uma boa noite de trabalho para ti!
Olá, amiga. Agradeço a gentileza bem patente nas tuas palavras, e reafirmo o meu contentamento, por perceber que aquilo que escrevo consegue de alguma forma prender quem amavelmente me lê.
Creio que a ficção científica pode ser um exercício muitíssimo interessante, pelos dois motivos que referes de forma indirecta: se por um lado a imaginação é obrigada a funcionar, por outro exige alguma pesquisa que complemente alguns conhecimentos que se possa ter. Desta forma, pode-se também fazer uma espécie de divulgação científica, pois os cenários tendem a ser plausíveis, uma vez que as informações veiculadas correspondem em muito àquilo que a ciência tem como dados adquiridos.
Amiga, o SULFETO de hidrogénio (H2S) é um composto que também toma o nome de "gás sulfídrico" ou "ácido sulfídrico" e que, sendo inalado numa proporção de oitenta partes por milhão provoca um estado de animação suspensa em mamíferos que habitualmente não passam naturalmente por estágios de hibernação ou de estivação. O SULFITO de hidrogénio (H2SO3) é um composto diferente e é chamado de "ácido sulfuroso". Acrescento ainda a esta lista um outro composto, conhecido por "ácido sulfúrico" ou "SULFATO de hidrogénio", cuja fórmula é sobejamente conhecida: H2SO4.
No conto, o uso de uma solução intravenosa de sulfeto de hidrogénio, parece-me ser adequada para o fim pretendido: colocar o humano no "misterioso limbo da animação suspensa"... :-) De qualquer forma, é sempre um prazer esclarecer quaisquer dúvidas que possam existir ou, se for caso disso, assumir e corrigir qualquer erro que possa ter cometido ou que venha a cometer... :-)
Muito obrigada pelo esclarecimento V.A.D. Os meus conhecimentos de química ficaram-se pelo antigo 5º ano do liceu, já lá vão muitos, muitos anos. Desculpa, mas um erro tipográfico seria plausível e o tal "sulfito" era-me familiar... Abraço!